É só glamour – parte II
Hoje estou uma mistura de triste com arreliada, engasgada com o que não disse e devia ter dito. Ou talvez não… No momento pareceu-me que era melhor não alimentar uma discussão, eu que até sou bastante frontal e digo as verdades (as que devem ser ditas!) doa a quem doer. Às vezes a brincar, mas digo. Hoje calei-me. Não valia a pena. É aquela cena de as pessoas não verem o mundo como ele é, mas como elas são, estão a ver? Não valia mesmo a pena argumentar com uma jumenta.
Sem entrar em pormenores desnecessários, quero só dizer que me senti bastante ofendida por alguém a quem não reconheço condições éticas e morais para criticar o que quer que seja do meu trabalho. Uma pessoa tipo flor de estufa, mimada, pouco amiga do trabalho, que pode viver dos rendimentos do marido e que quando lhe apetece faz birra e inventa cansaços e depressões para estar anos de licença sem vencimento e que inclusivamente este ano está a trabalhar só meio horário por opção para não se desgastar muito, coitada. Não tenho nada contra isso, mas pelo menos não opine sobre o trabalho dos outros! Sim, esta pessoa que descrevo, garanto-vos, de forma branda, quis opinar sobre o MEU TRABALHO!!!??? Eu, que passo lá mais horas do que qualquer outra pessoa, eu a quem vêm parar todas as situações para resolver, todos os problemas, todos os conflitos? Eu, que vou trabalhar doente, que até trabalhei sempre durante todo o ano em que lutei contra o CANCRO, a fazer quimioterapia e radioterapia, enjoada, com dores no corpo, careca de peruca, infeliz com a minha imagem mas a tentar transmitir uma ideia de segurança e amor-próprio que não tinha, abatida, de rastos? Eu, que só faltei nos dias da consulta seguida de quimioterapia (1 dia de 3 em 3 semanas, durante 6 meses) e na radioterapia nas primeiras horas da manhã (durante cerca de um mês) de onde seguia para o trabalho? Eu, que só faltei 15 dias aquando da operação para me recuperar de uma tumorectomia e esvaziamento axilar e fui trabalhar ao fim desse tempo, mesmo sem conseguir ainda conduzir (ia o meu marido pôr-me ao trabalho)? Eu que prescindi da fisioterapia no hospital, para não roubar mais tempo ao trabalho, fazendo-a à noite em casa? Eu, que tento ser um exemplo de dedicação ao trabalho (e sei que sou!), porque acho que o exemplo tem que vir de cima? Eu, que roubo tanto tempo aos meus filhos e marido em nome da profissão?
Não sei… Acho que às vezes há pessoas que não merecem a minha dedicação e o meu esforço…
Pelo menos este cantinho desanuvia-me. Conduzi até casa a cismar no que se passou e a pensar que ainda devia dizer algumas verdades à jumenta, mas escrever fez-me perspetivar melhor as coisas. Não vale mesmo a pena. Quem não viu esta realidade que eu aqui descrevi, também não vai vê-la agora. Vou tentar tirar isto da minha cabeça e dedicar-me à minha família o resto deste dia. Eu quero é paz e amor!
Beijinhos e abraços.