Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
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Família regressada das férias no norte ontem à noite e eu, hoje, com o dia reservado a pôr tudo em ordem cá em casa para poder iniciar o trabalho amanhã. Hoje tem sido só a fazer máquinas de roupa, secar, apanhar, porque quanto a passar a ferro, ela vai ficar pacientemente à espera que eu esteja para aí virada. Mas não é sobre vida doméstica que quero falar hoje.
Hoje tenho que deixar aqui um pequeno apontamento sobre a viagem de carro de regresso a casa de ontem, sobre a importância que ela teve para mim e acredito que para nós enquanto família. Uma simples viagem de carro que se constituiu como um marco que eu espero venha a ser muito importante na convivência e paz familiar.
Factos:
Ontem, inesperadamente (porque normalmente esse é o meu papel!), o M. aproveitou parte das cerca de 3 horas de viagem de carro entre o Minho e a casa onde escolhemos viver a maior parte do ano e onde têm sido criados os nossos filhos, para ter uma conversa muito séria com eles sobre crescimento saudável, valores, educação. Iniciativa dele, ele que eu tanto “acuso” de ser um bocado passivo no seu papel de pai e de manifestar falta de disponibilidade para os filhos (obrigações no emprego, etc)! Parece que finalmente me ouviu e fez tudo aquilo que eu tenho vindo a insistir para que fizéssemos, e que basicamente tem sido uma “luta” mais minha do que dele. É, nem tudo são rosas num casamento de 18 anos. Nem tudo são rosas no dificílimo papel de pai/mãe. Aliás, eu assumo que as maiores fontes de conflito entre mim e o M. (principalmente desde que os nossos filhos chegaram à adolescência) são aspetos relacionados com eles, com opções nossas e métodos usados na sua educação. Sim, todos sabemos o que dizem os livros e blá blá blá, e seria muito mais apelativo traçar aqui um cenário idílico desta difícil tarefa de educar filhos (pelo menos, para quem se importa!), mas não seria honesto da minha parte. A verdade é que, principalmente com a chegada da adolescência, tornou-se difícil incutir-lhes aquilo que entendemos inclusivamente ser o melhor para eles, para enfrentarem o mundo da melhor maneira. Continuo a achar que a adolescência é tramada! Mesmo tramada!
Mas acredito que priorizar na nossa vida acelerada a educação dos filhos dará inevitavelmente frutos e o M. parece começar a perceber também. Ontem foi mais um passo importante nesta caminhada a dois, melhor dizendo, a quatro.
Então, muito rapidamente, a conversa que me deixou nas minhas sete quintas versou principalmente sobre dois aspetos essenciais:
A necessidade de eles serem mais autónomos e responsáveis: colaborarem mais com as tarefas domésticas, passarem a gerir uma mesada (num e noutro caso, avaliamos como sendo culpa nossa eles serem pouco expeditos, já que fazemos tudo por eles, principalmente eu, o que poderá significar que estamos a criar totós que não têm autonomia, iniciativa, esperteza nenhumas);
A importância de não permitirmos que se tornem pessoas vazias de conteúdo, sem cultura, “caçadores de Pokémons” ou vegetais agarrados a um computador ou a um telemóvel dias a fio. Conversámos com eles sobre uma característica que consideramos preocupante na juventude atual: a ignorância, o desconhecimento do mundo, o facto de não lerem e não terem curiosidade pelo conhecimento, as obsessões com futilidades, a desvalorização do esforço e do trabalho, a desonestidade intelectual.
Esta é uma geração com a qual nos devemos seriamente preocupar. O que esperar de crianças, jovens e até adultos cuja actividade de eleição é caçar seres virtuais!? Explicámos-lhes que é por os amarmos muito que não queremos isso para eles. Terá valido a pena? Não sei, mas o sentimento de dever cumprido, a dois, em sintonia, como vem nos livros, a forma como ouviram as palavras e os ensinamentos dos pais, faz-me criar expetativas de estarmos a formar bons seres humanos.
Atenção! Quanto às pedras no caminho neste papel difícil de educador, faço também “mea culpa”: assumo que tenho muitos defeitos na educação dos meus filhos, nomeadamente ser demasiado controladora, como diz o M. Admito que não são raras as vezes em que me considero a pior mãe à face da terra. E isso acontece sobretudo porque lhes desejo o impossível: uma vida perfeita…
As férias escolares dos miúdos estão quase a acabar.Há mais de um mês, queixava-me eu aqui de que os meus filhos não ajudavam nas tarefas domésticas. Nesse dia, pus um ponto final, disse basta, isto tem que acabar, não pode ser assim, blá blá blá. Grande mãe! Grande mulher!
E hoje, já podemos fazer um balanço da resolução daquele dia? Sim! Já podemos! Continuou tudo igual. Foram à volta de três meses sem fazer nada a não ser brincar. Bem, se formos mais precisos, foram respetivamente 14 e 15 anos sem fazer nada!
Isto para chegar onde? Para chegar à conclusão de que realmente a culpa é minha. Eu é que, perante a "resistência" deles em fazer determinadas tarefas, para não me chatear, vou lá e faço. Mas não pode ser assim, eu sei. Tenho mesmo que encontrar uma forma de incentivar os miúdos a colaborarem mais nas tarefas domésticas. Para o bem deles! Sinto que não estou a criar indivíduos desenrascados, com autonomia e responsabilidade. Só que tenho um problema... É que o pai foi criado um bocadinho assim, um menino da mamã, não faz quase nada em casa e, pior do que isso!, não colabora o suficiente na imposição de rotinas nos nossos filhos para interiorização das mesmas. Nesta casa é tudo a mãe. Principalmente para fazer o papel de bruxa má, é a mãe. Gostava de poder descansar um bocadinho deste papel...
Realmente só quando somos mães é que compreendemos algumas palavras e atitudes das nossas próprias mães. Lembro-me de ouvir a minha mãe, perante o nosso (meu e da minha irmã) chamamento contínuo, dizer "Mãe isto, mãe aquilo! Já sei que sou mãe!" Aquela frase na altura fazia-me alguma confusão, mas hoje compreendo perfeitamente. Parece que há teorias que dizem que nós acabamos por ficar tal e qual as nossas mães. Pois eu já dei por mim a repetir estas palavras: "Mãe, sempre a chamar pela mãe! É tudo a mãe! Chamem o pai de vez em quando!" E um dia, quando a minha filha for mãe, embora ela afirme peremptoriamente que não, há de ser igualzinha à mãe dela.
A nossa casa cá no norte situa-se na aldeia (Como eu gosto! Como nós gostamos!), mas a uns escassos cerca de 4 ou 5km do centro da sede de concelho, com boas vias de acesso, servida por autoestrada, e perto da povoação mas longe o suficiente dela para descansar e fazer "férias verdes".
Temos alguns vizinhos simpáticos e solícitos. Ora nos oferecem produtos da horta, ora nos dão mudas de flores e árvores para o nosso jardim/quintal, ora me ajudam elas próprias (as mulheres, claro!) a cortar a relva, ora puxam conversa quando eu ando nas minhas jardinagens (o que me força a abrandar o ritmo dos trabalhos e nem sempre é bem vindo! 😂 ), ora competem para ver qual deles o mais amigável, qual ganharia o prémio de melhor vizinho. É engraçado: estes meus vizinhos mais próximos, dois casais (um pela nossa idade e outro um pouco mais velho) são ótimos para nós, muito cordiais e respeitadores para connosco, mas não se falam entre si (Questões de bens e heranças, o que haveria de ser?). Já pensei que talvez seja por estarem zangados que compitam pela nossa amizade... Cada um tem que causar melhor impressão que o outro aos novos e intermitentes vizinhos! Sorte a nossa! 😂
Bem, hoje o vizinho mais velho trouxe-me um malmequer num vaso para eu colocar no jardim. Às vezes "impõe-me" espécies que eu dispensaria, mas este não era o caso.
Tenho andado a jardinar, claro. Cada vez que cá vimos, as ervas daninhas teimam em dominar o espaço em que decidi colocar relva. Parece que nunca mais consigo ver um tapete uniforme de relva como imaginei... Mas não desisto e ainda vou vencer esta luta contra as ervas!
Só eu cá em casa é que aprecio os benefícios que a jardinagem provoca no estado de espírito. Faz milagres! Além disso, mesmo em férias não me vejo todo o dia sem fazer nada. Tenho que ter objetivos. Como dizia alguém: "gosto de olhar para trás e ver trabalho feito". A jardinagem dá-me isso. Hoje em dia, apesar das malditas e persistentes ervas que teimam em despontar e desenvolver-se mais rapidamente do que aquilo que eu gostava que crescesse, já posso olhar para o jardim e ver que fui eu que o concebi e que está ali trabalho meu. É um jardim/quintal simples, rústico como eu gosto, despretensioso, rural, com flores da minha infância - os malmequeres, as hortênsias, os agapantos, as sardinheiras. Nada de exótico, tudo típico. Acho que o meu amadorismo em arquitetura paisagística tem sido compensado pelo amor e dedicação que aplico no trabalho que desenvolvo. E acho que até não está nada mal. Quem o viu em quem o vê! Deixo aqui um apontamento.
Como já disse, o jardim/quintal é um exclusivo meu. Cá em casa, ninguém para além de mim gosta da jardinagem (pensando bem, nem de cozinhar, nem de limpar o pó, nem de nenhuma outra tarefa doméstica! 😕 Enfim...). Eu gosto e isso para mim é o bastante! Não me faz confusão que não valorizem e não participem desse trabalho. No entanto, hoje a minha filha disse-me algo que me deixou a pensar. Ela é muito feminista e reivindicativa da igualdade de género, já tinha falado nisso aqui. "Não tens vergonha de estar aqui a trabalhar e o pai estar lá dentro deitado a ouvir música?" Fala o roto ao nu! 😛 Haaa??? Acho que não! Eu gosto disto, ele não! Deveria ter vergonha?
A verdade é que não adiantaria nada tentar contrariar este cenário, o meu cenário. A minha filha ainda é muito nova e pensa que pode mudar as pessoas e o mundo. Quanto a mim, já consegui mudar algumas coisas. Em relação a outras, desisti. Esta é uma delas. É que há aspetos em nós que também ninguém consegue mudar... Às vezes é preciso aceitar.
E é isto! Cada vez que vimos passar uns dias ao norte, a vizinha Lurdes presenteia-nos sempre com produtos da sua horta e ovos das suas galinhas. Espetáculo de vizinhança! Não há como a vida no campo! Não há como a hospitalidade e o calor do pessoal do norte!
Tenho me vindo a aperceber que, servindo-me este espaço acima de tudo para "desopilar", inevitavelmente serei sempre mais assídua no inverno. É nessa altura que sou assolada por estados de alma que me suscitam a partilha de pensamentos, reflexões e vivências. Assim, dei por mim a pensar que o argumento da falta de tempo dos últimos meses é verdadeiro mas insuficiente para explicar a minha ausência por estas bandas. Confesso! Se me sentisse motivada e inspirada, encontraria tempo para manter este espaço ativo, não é? Encontramos sempre tempo para fazer aquilo que queremos mesmo fazer.
Já cá tinha falado desta minha condição de ser influenciada pelas horas do dia, pelos dias da semana, pelos meses do ano, pelas estações do ano. Sou sazonal em tudo, pelos vistos. Até para alavancar alguma escrita, dependo dos estados de alma que, por sua vez, são influenciados pela época que estou a viver.
Isto tudo para dizer que, à medida que se foi aproximando o tempo quente, o verão do meu contentamento, foi desaparecendo em mim o ímpeto para desbobinar aqui as minhas ralações. Parece que é mesmo certo que a escrita e a inspiração para a escrita fluem melhor com estados de alma mais depressivos, como só o frio e os dias escuros de inverno sabem operar em mim. Já alguém falou nisto, eu não me lembro quem. Acho que foi mesmo algum escritor. Tenho que procurar.
Bem, moral da história: estaria bem servida se fizesse da escrita o meu modo de vida...
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