Jardinagem e igualgade de género.
A nossa casa cá no norte situa-se na aldeia (Como eu gosto! Como nós gostamos!), mas a uns escassos cerca de 4 ou 5km do centro da sede de concelho, com boas vias de acesso, servida por autoestrada, e perto da povoação mas longe o suficiente dela para descansar e fazer "férias verdes".
Temos alguns vizinhos simpáticos e solícitos. Ora nos oferecem produtos da horta, ora nos dão mudas de flores e árvores para o nosso jardim/quintal, ora me ajudam elas próprias (as mulheres, claro!) a cortar a relva, ora puxam conversa quando eu ando nas minhas jardinagens (o que me força a abrandar o ritmo dos trabalhos e nem sempre é bem vindo! 😂 ), ora competem para ver qual deles o mais amigável, qual ganharia o prémio de melhor vizinho. É engraçado: estes meus vizinhos mais próximos, dois casais (um pela nossa idade e outro um pouco mais velho) são ótimos para nós, muito cordiais e respeitadores para connosco, mas não se falam entre si (Questões de bens e heranças, o que haveria de ser?). Já pensei que talvez seja por estarem zangados que compitam pela nossa amizade... Cada um tem que causar melhor impressão que o outro aos novos e intermitentes vizinhos! Sorte a nossa! 😂
Bem, hoje o vizinho mais velho trouxe-me um malmequer num vaso para eu colocar no jardim. Às vezes "impõe-me" espécies que eu dispensaria, mas este não era o caso.
Tenho andado a jardinar, claro. Cada vez que cá vimos, as ervas daninhas teimam em dominar o espaço em que decidi colocar relva. Parece que nunca mais consigo ver um tapete uniforme de relva como imaginei... Mas não desisto e ainda vou vencer esta luta contra as ervas!
Só eu cá em casa é que aprecio os benefícios que a jardinagem provoca no estado de espírito. Faz milagres! Além disso, mesmo em férias não me vejo todo o dia sem fazer nada. Tenho que ter objetivos. Como dizia alguém: "gosto de olhar para trás e ver trabalho feito". A jardinagem dá-me isso. Hoje em dia, apesar das malditas e persistentes ervas que teimam em despontar e desenvolver-se mais rapidamente do que aquilo que eu gostava que crescesse, já posso olhar para o jardim e ver que fui eu que o concebi e que está ali trabalho meu. É um jardim/quintal simples, rústico como eu gosto, despretensioso, rural, com flores da minha infância - os malmequeres, as hortênsias, os agapantos, as sardinheiras. Nada de exótico, tudo típico. Acho que o meu amadorismo em arquitetura paisagística tem sido compensado pelo amor e dedicação que aplico no trabalho que desenvolvo. E acho que até não está nada mal. Quem o viu em quem o vê! Deixo aqui um apontamento.
Como já disse, o jardim/quintal é um exclusivo meu. Cá em casa, ninguém para além de mim gosta da jardinagem (pensando bem, nem de cozinhar, nem de limpar o pó, nem de nenhuma outra tarefa doméstica! 😕 Enfim...). Eu gosto e isso para mim é o bastante! Não me faz confusão que não valorizem e não participem desse trabalho. No entanto, hoje a minha filha disse-me algo que me deixou a pensar. Ela é muito feminista e reivindicativa da igualdade de género, já tinha falado nisso aqui. "Não tens vergonha de estar aqui a trabalhar e o pai estar lá dentro deitado a ouvir música?" Fala o roto ao nu! 😛 Haaa??? Acho que não! Eu gosto disto, ele não! Deveria ter vergonha?
A verdade é que não adiantaria nada tentar contrariar este cenário, o meu cenário. A minha filha ainda é muito nova e pensa que pode mudar as pessoas e o mundo. Quanto a mim, já consegui mudar algumas coisas. Em relação a outras, desisti. Esta é uma delas. É que há aspetos em nós que também ninguém consegue mudar... Às vezes é preciso aceitar.