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M(ã)emórias da Maria Mocha

Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.

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Sonhos e pernas de mãos dadas!

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Os últimos tempos justificam um post sobre pernas e sobre sonhos. Mas como é que eu enfio tudo no mesmo saco? Tem tudo a ver! É como vos digo: comigo sonhos e pernas andam de mãos dadas (o que, se formos picuinhas, introduz aqui também o elemento "mão", mas vamos escolher ignorar isso por agora...). Sonhos e pernas, então. 

Sonho de ter uma casa de sonho.

Sonho sem pernas para andar.

Sonho - ou melhor, pesadelo sobre pernas.

 

Não faz sentido? Mas vai fazer! Começo por este último.

 

A propósito da minha lombociatalgia que me deixou coxa durante uns dias (ainda não estou a 100%), a m.M fez um comentário com a piada de que poderíamos formar um clube das coxas. Acho o máximo ela brincar assim de forma tão natural com esta condição que para muitos seria considerada incapacitante e motivo de auto-comiseração. Admiro-a muito por isso. É grande e linda! E lembrou-me de algo.

 

É que isto de coxear, para mim, também não me é completamente alheio. Conhecem aquela experiência de ver repetir-se um sonho, melhor dizendo, um pesadelo, daqueles muito reais em que acordamos agoniados e com uma pressão no peito? Durante muitos anos, na minha juventude (na primeira, porque agora decorre a segunda, claro está!) eu tive um desses pesadelos. Muitas vezes. Sonhava que tinha uma perna mais comprida que a outra e era uma sensação tão real que sentia um pavor, uma angústia imensa. Cá estão as pernas no sonho. Isto tudo se confunde, eu sei. 

 

Sempre achei que aquilo tinha que significar alguma coisa. Ainda que não fosse um significado literal, seria talvez um simbólico. Porquê aquele sonho repetidamente?

 

Há quem defenda que os sonhos têm uma linguagem simbólica e podem ser explicados com situações da vida real. Penso que foi o Freud que trouxe a teoria de que, de acordo com a psicanálise, os nossos sonhos podem ser a realização de desejos reprimidos. Ora eu não desejava coxear, por isso os pesadelos recorrentes, como aquele, como se explicarão?  

 

Não sei. E entretanto deixei de ter o tal pesadelo. Há já muitos anos que não me lembrava dele. Voltou-me à memória, em 2010, na luta contra o cancro de mama e na eminência (que felizmente não se veio a concretizar), de perder uma mama. Pensava que podia estar ali prestes a materializar-se um pesadelo que me perseguiu durante anos. Não seria da mesma forma, mas o meu corpo perderia, de outra forma mas da mesma maneira, a simetria. Teria o sonho sido uma premonição?, pensava eu para comigo. Não, não foi porque permaneci e permaneço igual. Depois parti o úmero e voltei às assimetrias, desta feita com o braço. E agora? Agora estou realmente coxa, parecendo ter uma perna maior que a outra, tal como no pesadelo. Será que é desta que eu "despacho" a explicação para o raio do pesadelo? Ou estou condenada a sofrer danos sobre aqueles elementos do corpo que temos aos pares? Se for isso, também já não restam opções, a não ser talvez os olhos e as orelhas. E, se pensar que não é comum o uso da catana por estas bandas, talvez me safe a ficar sem uma orelha... 

 

E quanto aos sonhos que sonhamos acordados, daqueles com divisões com prateleiras e caixinhas todas arrumadinhas, quando esses sim não têm mesmo pernas para andar? São porventura os mais difíceis de lidar. Desses é que não acordamos para uma realidade diferente da sonhada. E com esses não me apetece nada hoje brincar. Mas pode ser que ainda lá volte...

 

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Maria Mocha é o pseudónimo de uma mulher que, de vez em quando, gosta de deixar os pensamentos fluir pela escrita, uma escrita despretensiosa, mas plena dos sentimentos e emoções com que enfrenta a vida. Assim, as criações intelectuais da Maria Mocha publicadas (textos, fotos) têm direitos de autor que a mesma quer ver respeitados e protegidos. Eventuais créditos de textos ou fotos de outros autores serão mencionados. Aos leitores da Maria Mocha um apelo: leiam, reflitam sobre o que leram, comentem, mas não utilizem indevidamente conteúdos deste blog sem autorização prévia da autora. Obrigada.

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