Os bezerros é que abocanham as tetas das vacas em cenários bucólicos!
O título parece saído de um romance de António Lobo Antunes, passo a arrogância de comparar uma frase minha à escrita desse grande escritor. Digo isto porque aparenta não fazer sentido, mas acabarão por perceber que faz todo o sentido. Senão, leiam o episódio que tenho hoje para vos contar. Acreditem: isto é verídico, aconteceu mesmo!
Ainda estou incrédula com o que vi ontem, ao final do dia, no supermercado. Eu vi, com estes olhos que a terra há de comer, uma mãe e uma filha que devia ter uns 3 anitos. Pareceu-me uma mãe extremosa, à distância em que as observei, estava eu na charcutaria e elas na padaria. A criança agia como qualquer criança, sempre a falar "mãe isto e mãe aquilo" e a esticar os braços em direção à mãe, a exigir atenção, pensei eu. A mãe, sempre com muita paciência, ouvia e respondia como que implorando que a criança tivesse também, ela própria, paciência. Mas a criança não dava descanso.
Até que se calou, em algum instante entre o meu pedido de fiambre e o de queijo ou enquanto eu pedi à menina para verificar a data de validade do queijo fresco. A mãe cedeu e deu-lhe finalmente o que ela queria, pensei. E como é que eu me apercebi do que ela realmente queria, como foi? Apercebi-me porque a mãe caminhava agora na minha direção, a empurrar o carrinho e a criança sentada dentro do dito cujo, a abocanhar o mamilo da mãe, mãe esta que tinha sacado a mama para fora da roupa e caminhava assim com a filha pendurada nela com a maior naturalidade. Conseguem imaginar a cena?
Fiquei chocada, a sério! Eu amamentei os meus filhos, acho a amamentação a coisa mais natural do mundo e não vejo problema nenhum em que as mães o façam em público, de forma recatada, para suprir as necessidades alimentares dos filhos bebés. É humano que isso aconteça. Agora esta mãe levou a discussão para todo um outro nível. Aquilo não se tratava de alimentar um filho! O que aquela mãe fez foi ceder a um capricho de um "bebé" grande mimado que articula perfeitamente o discurso e já tem idade para entender as regras da vida em sociedade e, mais, que já tem idade para comer a sopa ou um naco de pão! E ainda circular em público naqueles preparos, como se fosse a cena mais natural do mundo? Alto lá!
Acredito que a aspirante a vaca no prado percebeu a minha incredulidade e guardou a mama dentro do vestido, sem que eu proferisse qualquer palavra. Certamente percebeu! Sou transparente demais e fiquei literalmente de boca aberta, sobrolho franzido e olhos fulminantes.
Não sei... Às vezes acho que sou uma valente besta insensível que não consegue ter empatia por uma criança de 3 anos (ainda se tivesse 3 anos e meio, podia criticar!...) que quer o conforto da mama da mãe (sim, porque leite não tinha de certeza!), nem com aquela mãe ruminante que faz tudo para que a sua cria se sinta feliz. Sou mesmo uma pessoa e uma mãe má...