Exames e um adolescente feliz: uma antítese?
Hoje o meu filho faz exame de Português do 9º ano. Sabem aquela angústia, aquele nervosismo natural na época de exames, aquela pressão muitas vezes auto-infligida, comprimidos para a memória e ansiolíticos? Estão a ver o estudo pela noite dentro, as noites mal dormidas, as horas gastas a treinar todos os exames já realizados?
Pois... Nada disso mora aqui! Pensam que ele acusa algum nervosismo? Nem pensar! O gajo "tá na boa"! Aliás, nos últimos dias tem tido bué de programas com os amigos, desde tardes passadas na piscina a jantares com os amigos e festas de aniversário. Não percebo nada disto. Diz-me "mãe, o que queres para mim é que eu só estude e seja infeliz?" Não, realmente não quero. A socialização e a integração no grupo são importantíssimas nesta fase do crescimento, na adolescência. Eu sei disso, mas só queria que ele estudasse um bocadinho mais...
Bem, o que é certo é que ele está relaxadíssimo e ontem até me provou que sabe os processos fonológicos todos de fio a pavio. Portanto, venha a paragoge ou a síncope ou a apócope, que ele sabe isso tudo. O problema é que pode não sair nada disso e ainda ontem ele não sabia o que era o hipérbato...
Mas também, convenhamos, o que interessa isso? Na minha modesta opinião, acho que deve mesmo haver uma discussão alargada à volta dos currículos portugueses. Ouço dizer que este Governo quer promover isso. Vamos ver... Por exemplo, na disciplina de Português deveria ser mais importante ser capaz de usar os recursos expressivos do que saber o nome deles. Ou seja, motivem-se mais os alunos para a leitura e ensine-se a ler e a escrever! Por causa destas e doutras é que há gente a sair das universidades que não sabe escrever sem erros ortográficos, quanto mais saber usar vocabulário diversificado e recursos expressivos ricos. Mas, pelos vistos, como as coisas estão, desde que saibam o que é um determinante ou um pronome, já têm um excelente domínio da língua de Camões!
Por falar em Camões, será que sai "Os Lusíadas"? Ou sairá Gil Vicente? Ai! Que nervos!