O Zé
"Olá! Eu sou o Zé. Como se chama?" Na verdade, não sei qual foi o tratamento que usou, mas sinto como até tendo sido por "tu". Sei que foi uma abordagem tão casual e calorosa, que também acabei por me apresentar por um diminutivo normalmente reservado à família e amigos.
O Zé é uma daquelas pessoas sociáveis da qual dizemos que têm uma "ganda" lábia. Aquela pessoa que topamos que está a cumprir um papel, mas perdoamos qualquer eventual fingimento pelo brio que notamos impor ao desempenho da sua tarefa e pelo investimento em estabelecer uma relação de proximidade, ainda que fugaz, com o cliente. Com ele, escolhemos esquecer que o seu objetivo final é vender.
Na viagem de regresso das férias, parámos num centro comercial em Coimbra para jantar (será o Coimbra Forum?). É claro que, tratando-se do ÚLTIMO dia de férias, do dia do regresso do paraíso, a disposição não era naturalmente a melhor. Foi aí que entrou o apelo do consumo. É difícil ir a um centro comercial só para jantar, sem ter vontade de dar umas voltas às lojas de eleição, não é? Umas comprinhas podem animar quem vê as férias a esgotarem-se, principalmente se for época de saldos.
Bem, resumindo. Foi naquela loja com nome de erva aromática. O Zé, com a sua simpatia e disponibilidade, conquistou-me e conseguiu até que eu comprasse peças da nova coleção. Esperto!
Convém dizer que eu, como cliente, não costumo dar confiança aos lojistas. Aliás, detesto que se intrometam demasiado nas minhas escolhas e que imponham demasiado a sua presença, que invistam para mim a esfregar as mãos e a oferecer ajuda. Gosto de espaço. Detesto provar roupa e receber a opinião de estranhos que, ainda por cima, estão ali com o objetivo de vender, logo, cuja opinião não se pode considerar a mais fidedigna. "Estou só a ver", digo invariavelmente.
Mas o Zé, com o seu jeitinho, lá conseguiu transformar-me no tipo de cliente crédula. Até falámos de como ficava a minha barriguinha naquele macacão preto lindo (Tamanho S, insistiu o Zé! Que me ficava muito bem, assegurou o Zé! E eu acreditei.), da dieta adiada, de vida saudável, da sua situação profissional, terminando, na despedida, com um "gostei muito de te conhecer". Foi recíproco, Zé!