Ainda sobre o dia de ontem...
As mamas estão mesmo porreiras, pá!!! Muito obrigada por todos os vossos pensamentos positivos, pelas vossas palavras amigas num dia que é sempre muito complicado para mim.
Acredito que esteja desculpada de ter vindo ontem tão tarde anunciar o desfecho positivo dos exames. Estive a gozar o prato. Eu e o M (ele nunca me falta nestas alturas), depois dos exames, fomos passear nos jardins de Belém. Estivémos por lá um bocado. Foi o suficiente para, ao observar os pequenos grupos de pessoas sentados nos bancos e na relva a desfrutar da natureza, perceber que me falta aquilo. Raio de vida estúpida a que levamos, que nem sequer temos tempo para gozar momentos de descontração, destes, com a natureza como pano de fundo. Só corremos, trabalhamos, vivemos ansiosos e, sem darmos conta, a vida passou-nos ao lado. Que inveja daqueles que conseguem levar uma vida mais calma em comunhão com a natureza...
Bem, mas o intuito que nos levou a Belém foi mesmo o belo do pastel. Um mimo depois de um dia difícil. E que bem que soube, depois de toda a ansiedade das horas anteriores!
Ganhei mais um ano! Como dizia ontem alguém, caminho para sete anos depois do prazo expirado.
Não sei se na altura leram, mas já deixei claro aqui o quanto confio no médico que me avalia as mamas anualmente. Confio, admiro-o e estou-lhe eternamente grata. Foi ele que me disse sem rodeios que eu tinha cancro e foi ele que aconselhou o tratamento neoadjuvante que eu deveria fazer antes da cirurgia para poupar a mama, que eu segui escrupulosamente, tendo tudo corrido conforme previsto, tanto que hoje quase nem se nota a cicatriz.
Perguntou-me como tenho andado. Pergunta sempre. Ontem confidenciei-lhe que tenho andado muito ansiosa ultimamente e ele surpreendeu-me com uma resposta que eu não esperava.
"Mas você é tão forte! Como é que anda assim?"
"Como é que o doutor sabe que eu sou forte?"
"Então você, durante os tratamentos de quimioterapia, nem sequer deixou de trabalhar..."
Como é que ele se lembrava disto, seis anos volvidos e com tantas pacientes que lhe entram no consultório? Talvez fosse tão simplesmente uma anotação que ele tivesse na minha ficha e que tivesse lido antes de entrar no consultório, mas eu fiquei com o coração a transbordar (ainda mais) de carinho por aquele médico. Escolhi acreditar que ele se lembrava da minha história tão parecida com tantas outras histórias. Escolho acreditar que ele é um exemplo da humanização que se quer na relação médico-paciente. Sim, tenho a certeza de que ele se lembrava!