Filhos e cadilhos
Apesar de tudo, os meus filhos são bons meninos. Mas são adolescentes, com tudo o que isso carrega: têm oscilações de humor, culpam os pais de variadíssimas coisas, reclamam direitos, são por vezes irreverentes, e até contestam a nossa autoridade. Nada que eu não fizesse quando era da idade deles.
Na aprendizagem escolar não têm tido problemas. Ela está no 10º ano com uma média de 17 valores no Curso de Ciências e Tecnologias; ele está no 9º ano com média de 4. Ele é mais calaceiro que ela e menos ambicioso e esforçado. No entanto, neste último período representou a escola no corta-mato distrital do Desporto Escolar e participou no Parlamento dos Jovens, sendo apurado para ir à Assembleia da República e tudo, em representação da sua escola. O gajo tem à-vontade para falar em público e alguma oratória, pelos vistos. E os nossos filhos não devem ser na escola, a meu ver, apenas pequenos soldadinhos que só vivem para marrar as matérias para as fichas. São muito mais que isso e nós, pais, devemos promover essa formação integral dos nossos filhos.
Apesar de tudo isto que vos relatei, desde a semana passada, em que obtive o registo de avaliação do meu filho, fiquei a saber que o que a escola acha dele é que pode melhorar o rendimento escolar (pois pode, ainda pode ter média de 5, que é o que se segue ao 4) é pouco empenhado e, vejam isto, pouco responsável. Nem uma referência às coisas boas que ele fez e das quais a escola deveria ter orgulho. Pelos vistos escolheram um miúdo pouco responsável para cumprir papeis tão importantes ao nível desportivo e cultural, um papel que não seria qualquer um que conseguiria desempenhar. Questiono-me como serão os outros alunos da escola, para terem escolhido o meu!... E eu, uma mãe que entrou naquela reunião tão orgulhosa dos feitos do seu filho neste período, saí dela completamente no fundo de um poço de onde ainda não saí.
Porque é que em todas as áreas da vida e situações o ser humano só se fixa nos aspetos negativos? Porque é que não se valoriza e elogia mais? No caso da escola, eu percebo que o objetivo é que os alunos melhorem o rendimento escolar e aceito as críticas. Mas será que é não valorizando os pontos fortes dos jovens que se consegue melhorar o que há para melhorar?
Fiz questão de transmitir esta minha posição na reunião. Mas isso não me aliviou deste estado de tristeza e deceção que sinto. E acho que não fui sequer compreendida. Resta-me fazer ver ao meu filho que sei que ele pode trabalhar mais e vou investir nisso com ele, mas fiquei mais certa do que nunca que tenho que lhe demonstrar que sou a mãe mais orgulhosa do mundo nas suas conquistas. Não vou permitir que ele fique no estado em que me deixaram a mim.