Furos jornalísticos... ou nem por isso!
No jornalismo, quando não há furos, é preciso criá-los, nem que seja artificialmente. Normalmente recorre-se ao assunto tempo, como aliás fazemos todos quando não sabemos o que dizer. É sempre uma saída airosa. Assim, no verão fala-se do calor e dos incêndios. Não sei porquê, mas desconfio que isso até funciona como rastilho. No inverno é a chuva, as inundações ou o frio. Todos estes são sempre assuntos de recurso, à falta de outras notícias que encham as páginas dos jornais e principalmente os ecrãs das televisões. E depois, como sabemos, somos obrigados a ver esse assunto ser repetido até à exaustão.
Esta tendência até me permitiu há uns tempos, num dia frio de pleno inverno, rir um bom bocado com uma reportagem daquelas em que andavam na rua a perguntar aos transeuntes se tinham frio, até que uma mulher respondeu qualquer coisa como isto, num português com sotaque estrangeiro: "Não, eu não tenho frio. Eu sou da Rússia. Aqui em Portugal não faz frio". Pronto! Matou logo ali a reportagem. Lembrou-me aquele sketch do Herman com o entrevistado que não sabia nada do que lhe estavam a perguntar, apesar de o quererem guiar num determinado sentido, e só respondia: "Pois... Não... Não sei... Eu é mais bolos e batizados...".