No reino dos eucaliptos.
Não me lembro se já escrevi sobre isto, mas guardei as fotografias do cenário que encontrei no verão passado, no início de agosto, quando chegámos à nossa casa no minho para os dias de férias que habitualmente passamos lá. Partilho-as hoje. Aquela visão da natureza recentemente queimada e a consciência da nossa vulnerabilidade marcou-me. Lembro-me que, nos dias de férias restantes, dormia sobressaltada com medo que o inferno voltasse e nos surpreendesse a dormir. Apesar de ser um cenário recorrente por aquelas bandas (não há verão nenhum em que não aconteça um incêndio nos montes que circundam a minha terra natal), nunca um incêndio tinha estado tão perto da minha casa.
Foi esta a visão que tiva das janelas da minha casa (garanto-vos que não utilizei qualquer zoom):
Já perceberam que a nossa casa fica mesmo encostada a um pinhal e o fogo esteve mesmo perto. Pinhal, é como quem diz... Já foi um pinhal. Agora é um eucaliptal, com muitos eucaliptos, os que podem ver nas duas primeiras imagens. Um pouco mais acima, na terceira foto, já nem eucaliptos há. O monte está despido, de tanto ter sido fustigado por incêndios ao longo dos anos.
Desta vez, há um ano, o incêndio chegou mesmo ao pé das poucas casas que ali existem. Aconteceu apenas meia dúzia de dias antes de nós chegarmos, sem nós nunca termos sabido de nada. Ouvi depois os relatos de vizinhas com as casas um pouco mais acima no monte que tiveram que proteger os seus bens com as próprias mãos, tal foi a rapidez com que o fogo avançou para cima do povoado.
Não é difícil perceber porquê, quando na nossa floresta o eucalipto ganha cada vez mais protagonismo em detrimento de árvores autóctones como o sobreiro, esse sim, capaz de travar a propagação de incêndios, até por causa da sua capa protetora de cortiça. A ganância desenfreada dos homens impele-os a plantar o melhor combustível e propagador de fogos que poderiam encontrar, por esse país fora. De forma desordenada, perto de casas, a ladear estradas, sem cumprir as leis, de qualquer forma, a sugar a água do nosso território. Maldita espécie!
Recentemente, aqui perto de onde vivo, plantaram uma grande extensão de terreno pantanoso com eucaliptos (na foto abaixo). Passo muitas vezes de carro por lá. É um atalho no percurso diário que faço. Odeio aqueles jovens eucaliptos a destoarem na paisagem devido à sua cor azulada. Sempre odiei. Crescem a um ritmo alucinante. Será que aquela plantação cumpre a lei? Vou tentar saber e garanto-vos que vou denunciar, caso perceba que não cumpre. Não podemos permitir que o chamamento do dinheiro fácil de outrem nos transforme em cúmplices de assassinos em potencial.