Os procrastinadores subtraem-me.
Afoita! Despachada! Formiga! Stressada! Assim sou eu.
O "deixa andar" põe-me doente. O "deixar para amanhã o que posso fazer hoje" mexe com o meu sistema nervoso. Tenho dificuldade em lidar com isso. E, no entanto, sou confrontada com situações dessas todos os dias. Com pessoas procrastinadoras com as quais interajo (na vida pessoal e profissional) e que funcionam assim ao ralenti e encontram sempre desculpas para não fazer. Elas entorpecem-me os movimentos, por vezes até põem em causa e dificultam as minhas realizações. Diminuem-me. Subtraem-me. Às vezes aumentam-me. É uma questão de perspetiva.
Sempre sacrifiquei o prazer imediato ao cumprimento das minhas obrigações. Primeiro as obrigações e só depois o lazer. Nem sequer consigo usufruir de momentos de descontração se não sentir que produzi algo útil antes, se não vir as responsabilidades atendidas em primeiro lugar.
Não gosto de sucumbir a fraquezas que comprometam o meu desempenho. Nem doente deixei de sair todos os dias de casa para perseguir metas e sonhos. Dizem-me que revelo uma força e espírito de sacrifício que vai mais além do que as do comum mortal. Gosto de viver com essa imagem de mim, mas ela esgota-me.
Faz-me bem olhar para trás e ver trabalho feito, qual jornaleira a admirar a sua carreira já aviada num qualquer trabalho agrícola. Sempre fui o ciclista que vai à frente a abrir caminho e a puxar pela equipa, embora não goste, como ele, de deixar a frente do pelotão e sacrificar a camisola amarela a outro, depois de ter sido eu a desbravar o caminho. O esforço tem que ter retorno. Uma vitória. Um prémio. Um reconhecimento. Altruísmo tem limites e às vezes confunde-se com asnice. E eu não sou, nem nunca fui, parva.
Gosto de estabelecer objetivos e não sou de trabalhos pendentes. Não gosto de adiamentos. Não sou de procrastinar. Dá-me uma satisfação imensa resolver situações, avançar. E só assim descanso.
Posto isto...
Deveria ter sido ontem. Poderia ter sido ontem, mas tu não quiseste. Amanhã é que é, que hoje não dá jeito, dizes. Tivesse sido ontem, e hoje já seria mais eu. Assim sou um eu incompleto. Um eu semi-derrotado e ansioso. Uma vida mais uma vez adiada. Talvez hoje avancemos, sem medo... Porque senão, vou ter certamente um fim-de-semana incompleto... como eu.
(...)