Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
Vou-me apercebendo, com o passar dos anos, que sou uma romântica incurável. Derreto com narrativas de amores longos e felizes. Como o dos meus pais, apesar das dificuldades que enfrentaram ao longo da sua vida em comum. Lamechas em último grau é o que eu sou, afinal. "Melosa", como diz o M.
Recentemente eu e o M. fomos convidados para um jantar na casa de um casal sexagenário, pelas mãos da sua filha e do seu genro, nossos amigos, que nos convidaram para lá ir jantar uma especialidade da região. Os anfitriões eram pessoas extraordinárias, excelentes comunicadores com muitas histórias de vida para contar daquelas em que eu fico deleitada a ouvir como acontece na leitura de um livro que devoramos mas ao mesmo tempo cujas páginas não queremos que cheguem ao fim.
Há amor mais inspirador do que aquele de um homem apaixonado que, ao fim de dezenas de anos de vida em comum, identifica a sua mulher nos contactos do telemóvel como "Amor meu"? Não há, pois não? O mesmo cujo lar, uma casa modesta, abre as portas aos visitantes com uma pequena tabuleta colocada na parede com a frase "Contigo serei feliz" (na imagem)? Questionei-me se seria um apontamento religioso, mas escolhi não perguntar. Não queria correr o risco de que me dissessem que sim. Prefiro acreditar que seja uma máxima de vida daquele casal tão inspirador, uma dedicatória mútua.
Fiz questão de lhes transmitir a minha admiração pela sua história de vida, que ouvi embevecida, diga-se. E tenho que partilhar que à conta desta história de amor, o M. teve que "levar" com a síndrome "os maridos das outras" que me ataca nestes momentos de confronto com o romantismo alheio e ausente em nós enquanto casal. Mas não há nada a fazer! Ao fim de 25 anos, já desisti de ser o "Amor meu" no telemóvel dele. Tenho que me contentar em sê-lo efetivamente (e na realidade sou-o!), mas sem grandes ostentações ou manifestações exteriores. Talvez seja só isso que é preciso...
Ela chegou sozinha e sentou-se na mesa ao nosso lado. Parecia triste, abatida. Deveria ter vinte e poucos anos, algum excesso de peso, óculos, o cabelo negro preso num rabo de cavalo e vestia de preto, o que ainda lhe conferia um ar mais abatido e pesado. Nada nela combinava com a sua juventude. Apenas o ar de menina amuada, a fazer uma birra, lembrava o facto de ainda ser novinha. Com quem estaria? Parecia esperar alguém...
Após um minuto ou dois, ele veio ao pé dela, oriundo do balcão do snack bar, mas não se sentou. Era um rapaz pela idade dela, ruivo, elegante. Debruçou-se sobre ela, perguntou-lhe algo delicadamente e ela esboçou um trejeito de enfado e disse que não, abanando a cabeça e ostentando um beicinho. Continuava miseravelmente infeliz, pelos vistos. Ele insistiu e ela agora soltou impacientemente "Já disse que não quero. Já comi!". Estava nitidamente a tentar marcar uma posição. Ele, por seu lado, não podia ser mais ternurento e dedicado a ela.
Quando ele chegou novamente com um tabuleiro com duas bifanas no pão (que ela nunca viria a comer), o clima manteve-se. Ela com os olhos tristes, um olhar vago. Mas os olhos dele!... Os olhos dele, esses não enganavam! Fixavam-se nela com tanto amor! Amor...e medo da birra dela, não fosse ela perder o controle ali em público a qualquer momento. Mas não. Manteve-se em silêncio. E ele tentava calmamente resgatar a normalidade àquele relacionamento, como de resto fazia sempre. Ele sabia que ela costumava ter aqueles momentos e era melhor deixá-la acalmar. Só tinha que lhe provar o seu amor. E isso era tão fácil! Aquele homem move montanhas por aquela mulher. Só ela existe. Só ela importa. E aparentemente, só ela é que não percebe isso.
(Nota: São só cenas das pessoas que vou "alservando" e das vidas que vou imaginando ...)
Nos comentários do post da última segunda-feira, vieram à baila as expressões fazer Amor e fazer Sexo. E como eu tenho uma visão muito própria sobre isso, vamos lá partilhá-la.
Não tenciono desenvolver o assunto nos termos habituais, por exemplo abordando a questão do sexo com amor ou sexo sem amor, ou a crença de que os homens é que praticam mais sexo sem amor, enquanto as mulheres não. Não sei se ainda é verdade ou não. Por acaso, comigo o sexo só com amor. Só com um elevado grau de intimidade. E a verdadeira intimidade vem do conhecimento profundo do outro, dos sentimentos que se nutrem pelo outro. Mas, como em tudo, as pessoas são diferentes e assim é que tem que ser. Tudo é aceitável desde que satisfaça as duas partes. Ou as três, ou as quatro,...
Mas uma coisa é certa. Nunca da minha boca saiu a expressão "fazer amor" a propósito da relação sexual. "Fazer amor" é uma expressão que nunca me soou bem para legendar algo que é acima de tudo carnal. Tenho mesmo aversão a articular essas palavras. É meloso. Não consigo. Fazer amor? Não! Amor acontece quando se dá um mimo, um beijo de boa noite, quando se leva o pequeno-almoço à cama, quando se cuida em caso de doença, quando se apoia nas dificuldades, quando se partilha alegrias e tristezas, quando se dá um abraço apertado, quando se diz um "amo-te" sentido, e pode acontecer ou não quando se faz sexo.
A "pessoa" deve fazer mesmo é sexo puro e duro com o companheiro(a)! Se houver amor, melhor, mas o sexo continua a ser algo visceral, acima de tudo fisiológico e não se compadece com linguagem melosa, eufemismos e regras de etiqueta. Isso é à moda antiga (espero eu!), em que o homem tratava com "respeito" a mulher em casa e, por isso, ia às putas meninas com as quais, essas sim, podia satisfazer as fantasias e a líbido, desrespeitando-as à vontade.
Até vou mais longe. Vou afirmar algo que nunca ouvi ninguém dizer antes, mas trata-se de uma convicção que esta cabeça maluca tem vindo a formar.
Vem bomba!
Cá vai!
Quem diz que faz amor, certamente não fode faz sexo como deve ser (com exceção dos meus ricos leitores que estejam a ler isto e o digam,... Mas agora, depois desta desconstrução, vão certamente deixar de dizer ). A linguagem do sexo tem que ser mais crua, picante, obscena, com um código próprio. Não deve ser a mesma que usamos à mesa, a não ser que a mesa seja usada para outro fim que não seja comer... literalmente, comida .
Também pode e deve haver fantasia, perversão e até "ordinarice" entre pessoas que se amam. Não há cá faltas de respeito por causa disso. Por outro lado, se alguém quiser convosco "fazer o amor", acreditem: é uma nódoa. Eu cá não ia gostar nada de ter um homem que me dissesse "vamos fazer amor?" Estragava logo o clima, arruinava o momento.
Faz-me lembrar de um casal senhorio de uma casa onde morei, nos tempos da faculdade, em que ele e ela se tratavam por Sr. e Sra. M. Acreditam nisto? Como é que eles se relacionariam na cama? Um dos divertimentos, meus e das minhas colegas de casa, era imaginá-los nesses preparos, a pedirem por favor e com licença para foderem procederem ao ato. O que nós nos ríamos a imaginar esse cenário!...
E pronto, sempre a desconstruir paradigmas, a guru do sexo hoje fica-se por aqui. Agora digam de vossa justiça. Qual é a linguagem que preferem? Querem melosamente fazer amor ou libidinosamente fazer sexo?
Já agora, tentem contornar a censura no boneco lá em cima, adivinhando as palavras que faltam. Foi fácil? Então passaram no teste da gíria sexual. Estão aptos a aplicá-las logo que possam.
Boas fodas relações sexuais! (Estão a ver? A etiqueta e a linguagem técnica aqui têm algum jeito?)
Perdi a minha mãe em fevereiro último, inesperadamente.
Perder a mãe deixa um vazio enorme, uma angústia tremenda. A vida segue o seu rumo mas, volta e meia, a tristeza invade os nossos corações. A forma como tenho lidado com essa tristeza tem sido procurando sentir a presença dela no meu dia-a-dia. Foi por isso que espalhei fotos dela pela casa. É assim que lhe dou todos aqueles beijos que ficaram por dar enquanto ela estava entre nós. É assim que lhe digo todos os dias o quanto gosto dela. Eu dei-lhe muitos beijos, que eu sou bastante beijoqueira, e mimos também, os possíveis por vivermos distantes. Mas a quem perde entes queridos, penso que é inevitável que fique a sensação de que foram poucos os beijos que demos, de que foi insuficiente o carinho que lhes dedicámos.
Hoje pediram-me o nome da minha mãe para preenchimento de uns documentos necessários no trabalho. Surpreendi-me. Já não me lembro da última vez em que o nome da minha mãe me foi solicitado. E poderá parecer estranho, mas senti um consolo tão grande, senti-me tão feliz por escrever o nome da minha mãe. Uma felicidade inexplicável, irracional. Parecia que, por momentos, ela voltou a fazer parte da minha vida, adquirindo uma presença quase física. Foi como um abraço que lhe tivesse dado. Nem sei bem explicar o que senti... O meu coração até disparou. E percebi, melhor, confirmei: ela ainda é, e será sempre, a minha mãe querida. Não está cá mas para sempre estará escrito o vínculo que temos, é uma referência na minha identificação. Logo, a minha identidade estará para sempre ligada a ela, uma ligação de sangue atestada em documentos palpáveis e oficiais. Que orgulho senti em escrever o nome da minha mãe! Oxalá me solicitem muitas vezes o nome da minha mãe...
Coisas bizarras de uma cabeça muito particular... A minha...
Como a minha mãe dizia, meio a brincar meio a sério, numa alusão à relação que acreditava existir entre o mês de nascimento e a sanidade mental das pessoas: "És de Maio. Só podes ter uma faltinha..." (significando maluca, get it?! )
Mãe querida, pois tenho. Tenho mesmo, muitas! Mas a minha maior falta hoje és tu!
O amor entre irmãos é das coisas mais lindas! Ato tão bonito este, entre os irmãos triatletas Brownlee!
(Vou tentar lembrar-me desta cena quando os meus filhos se unirem em cumplicidades fraternas nos momentos em que eu estou a cumprir com rigor o meu papel de mãe... )
É mesmo isto que me define na perfeição, muito especialmente aqui, enquanto "blogger" (ou uma espécie de...), mas também na minha vida diária. Aliás, ter iniciado este blog em janeiro deste ano foi exatamente para encontrar uma forma de desbobinar o que me vai na alma. Senti essa necessidade. Mas estarei a fazê-lo?
Sou uma pessoa que pensa demais em tudo e com tendência para me fixar nos aspetos negativos da vida. Não consigo dar a volta a isso. Escrever sobre o que me vai acontecendo seria uma terapia, a receita mágica para descarregar pensamentos e reflexões que tenho dificuldade de partilhar nas relações interpessoais. Sim, porque há aspetos da minha vida que nem ao M. gosto de contar. Mas que fique bem claro que temos uma ótima relação, e ao fim de 25 anos ainda nos amamos muito. Já não é um amor tão sôfrego, digamos, mas é um amor sólido. Só não gosto é de me "despir" em frente a ninguém, nem mesmo do amor da minha vida. Ele ainda nem sabe que criei este blog... Se calhar devia contar-lhe... Tenho andado para fazer isso, mas tem-me faltado a coragem...
Bem... sou assim, fechada acerca dos meus traumas, das minhas ralações e tristezas. Nada a fazer. Além disso, como sou muito observadora, perspicaz e me apercebo de tudo em meu redor (mesmo o que não é dito, os silêncios, os olhares, os gestos, as entrelinhas), tenho esta mania de achar que os outros também teriam obrigação de perceber em mim quando preciso de colo, de um abraço, de carinho. Por outro lado ainda, a minha capa de mulher forte, que efetivamente sou, cria em mim uma aura de quem nunca precisa desse carinho, dessa atenção. Mas preciso, como de pão para a boca. Sou muito carente por trás dessa capa de força e valentia de mulher guerreira.
Bem, mas a que respeito isto tudo hoje? É que dei por mim a pensar que o objetivo primeiro deste blog não está a ser cumprido. Tenho esta dificuldade em falar abertamente do que me vai na alma, pelo menos no que diz respeito a determinados assuntos mais íntimos. Ou seja, percebo que eu própria é que me auto-censuro. Mesmo aqui, em que não mostro a face. Até nos artigos de opinião que escrevo para um jornal, estou sempre a medir as palavras com receio das reações, do que os leitores possam pensar. Raios! Mas porque é que eu, com 40 anos a caminho dos 50, ainda me preocupo com o que os outros vão dizer? Esta insegurança dá cabo de mim.
E só para contrariar isso, "pespego" aqui hoje uma imagem com um valente palavrão à moda do meu norte! Que se f#*& (com todo o respeito por eventuais leitores apanhados desprevenidos...)! Eu até sou das que acredita que as pessoas que dizem um palavrão de vez em quando são mais confiáveis, honestas e sinceras! Tenho dito!
O meu “namorado” de há 25 anos, mais uma vez, não me deu flores. Ele não é dessas coisas! Nunca foi um homem romântico, nem é dado a manifestações públicas de carinho. Antigamente eu ressentia-me com isso e fazia questão de que esse ressentimento fosse bem notado. Como nunca fui uma pessoa amorfa, fazia birras, beicinho, “pés-de-vento”, ao ponto de ele se sentir na obrigação de aceder ao meu desejo adolescente de ter uma atenção especial no dia 14 de fevereiro. Ou seja, quando o fez – quando registou de alguma forma este dia, admito que foi mesmo por obrigação. Hoje, genuinamente, já não ligo a esta data. Mas tenho que reconhecer que ele não é, neste aspeto, realmente, o namorado perfeito…
E, no entanto, ele é o melhor namorado, marido, pai dos meus filhos, companheiro, amigo, amante, que eu poderia ter tido.
Porque sei que me continua a amar com todos os meus defeitos, assim como eu o amo a ele;
Porque eu não sou fácil e ele atura as minhas neuras e mudanças de humor, sem vacilar;
Porque me é e sempre foi fiel (uma mulher sabe!);
Porque ainda me faz sentir desejada e sexy, tantos anos e alguns quilos e rugas depois;
Porque não é nada egoísta no que diz respeito à nossa vida sexual e porque me ensinou a adorar ser mulher e a viver a minha sexualidade de forma plena;
Porque gosta da vida familiar, é caseiro e não troca um fim de tarde ou serão em família por uma ida ao café para beber cervejas e contar piadas de gajas (só vai ver a bola, mas é cada vez mais raro fazê-lo e quando vai, leva o filho ou vamos mesmo todos, já que todos gostamos de futebol);
Porque foi ele que, encenando uma aparente normalidade no ato, me cortou o cabelo quando este começou a cair com os efeitos da quimioterapia, enquanto eu chorava e ele (acredito que a chorar por dentro) tentava desvalorizar esse momento tão duro para mim, como certamente o é para qualquer mulher;
Porque me ajudou (por acaso, foi ele e os meus filhos!) a escolher a peruca que usei durante mais de 6 meses durante os tratamentos, e cuja visão e cheiro ainda hoje não suporto, mas que tenho cuidadosamente guardada, escondida no fundo do armário, para qualquer eventualidade;
Porque nunca deixou de me desejar, nunca permitiu que eu me sentisse feia, mesmo careca, inchada e com todas as outras marcas dos tratamentos;
Porque me acompanhou a todos os médicos e consultas e permaneceu junto de mim durante os dias infindáveis de tratamentos na dura batalha contra o cancro; ainda hoje me continua a acompanhar a todos as deslocações que se relacionem com o meu estado de saúde;
Porque há 5 anos, na perspectiva de poder ter que vir a fazer uma mastectomia (o que não veio a acontecer), me disse que isso não era importante para ele, que essa eventualidade não mudaria nada no que ele sentia por mim e que o importante era que eu ficasse curada, mesmo que o caminho fosse esse (não me esqueço de relatos e das leituras que fiz de testemunhos de tantas mulheres abandonadas por bestas nesta fase tão difícil, quando elas mais precisam de apoio e de se sentir amadas!);
Etc, etc, etc...
Pois é, o meu namorado não é perfeito! Não me dá flores no Dia dos Namorados!... Mas é o melhor namorado do mundo nos restantes dias do ano, desde há 25 anos, e eu não podia ter um namorado melhor! Bem, e sem qualquer humildade digo: acho que também faço por merecê-lo.
Nota final: A foto é ilustrativa do nosso Dia dos Namorados de hoje: em família, os quatro, em pijama, embrulhados em mantas, a ver um filme sobre a 2ª Guerra Mundial, “Jacob, o mentiroso”, com o Robin Williams (é habitual fazermos sessões cinéfilas educativas para os filhos). Não há flores que paguem isto!
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