Já lá vão 30 anos...
"(...) Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar (...)"
José Afonso, Balada de Outono
E, no entanto, ainda canta e cantará...
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"(...) Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar (...)"
José Afonso, Balada de Outono
E, no entanto, ainda canta e cantará...
Miguel Torga, pseudónimo do médico Adolfo Correia da Rocha.
Passam hoje 22 anos da sua morte (12 de Agosto de 1907 - 17 de Janeiro de 1995).
"Pedido
Ama-me sempre, como à flor do lírio
Bravo e sozinho, a quem a gente quer
Mesmo já seco na recordação.
Ama-me sempre, cheia da certeza
De que, lírio que sou da natureza,
Na minha altura eu brotarei do chão."
Miguel Torga, in 'Diário (1943)'
............................................................
"Livro de Horas
Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão ao leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Me confesso
Possesso
De virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais,
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.
Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas,
E o das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.
Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
Do tal Céu que Deus governa;
De ser um monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!"
Miguel Torga, in 'O Outro Livro de Job'
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