Uma perspetiva politicamente incorreta sobre a caridade? Talvez... Mas é a minha!
Espero conseguir fazer passar o sentido correto daquilo que quero transmitir hoje.
Não gosto da caridade(zinha)! Do próprio conceito de caridade! A caridade é perversa! Já abordei este assunto aqui, a propósito do peditório do Banco Alimentar Contra a Fome, em dezembro último.
Há tempos ouvi a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet, a falar num canal de televisão sobre o sucesso da última campanha que levaram a cabo. No entanto, dizia ela que se nota que os portugueses hoje em dia não têm tanto poder de compra porque os cabazes dantes continham um pacote de arroz e um pacote de leite e hoje em dia contêm um pacote de leite e um pacote de massa. A massa é mais barata, entenda-se.
Pois é... Perante este depoimento, eu só consigo fixar a minha atenção no facto de que são os que têm pouco poder de compra (os tais que fazem questão de ajudar quem precisa mas vêem-se obrigados a substituir o seu contributo de arroz por massa) que têm que ajudar quem tem ainda menos poder de compra. Isto é perverso ou não é?
Vejamos, por exemplo, o que se passa agora com a grande onda de solidariedade para com as vítimas dos incêndios da semana passada. É bonita esta faceta solidária do povo, português, sem dúvida. Mas até artigos médicos os portugueses angariaram! Por favor! Faltou gaze e medicamentos para as queimaduras nos centros de saúde locais! É concebível que tenham que ser os portugueses a resolver isso e não ser o sistema a rapidamente fazer face à situação? Lamento, mas isso não me entra na cabeça.
O que é certo é que de facto vi, à minha volta, várias organizações espontâneas de pessoas a recolher esse tipo de coisas e esse facto, no meio da calamidade que se abateu sobre a zona de Pedrógão Grande e concelhos limítrofes, sublinho, apesar de tudo, é bonito de se ver. É bonito e, convenhamos, não há como não ver! É que os portugueses são solidários mas também são muito vaidosos da sua solidariedade. Nos últimos dias, nas redes sociais, é vê-los à porfia a ver quem faz mais, e depois sorridentes em fotos, tendo como pano de fundo as caixas de artigos acondicionados para transportar. Que vos posso dizer? Sou das que acha que a solidariedade é mais bonita se não for ostentada.
Cá entre nós, que ninguém sabe, nós cá em casa contribuímos com roupa. Dispensámos foi a espécie de "15 minutos de fama" à custa da miséria alheia. Até porque, se há coisa que não me apetece fazer, é sorrir vitoriosa para uma foto em meio a uma tragédia destas...
(Fonte da imagem: http://gibanet.com/2011/12/18/caridade-ou-assistencialismo/)