Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
Esta é a história da minha vida. As tentações são muitas e parece que "a pessoa" à medida que avança na idade tem cada vez menos propensão para sofrer. Sim, porque não me digam que se é esbelto sem sofrimento e fome. Não me venham com a conversa da "boa genética". Balelas! Atribuir a elegância à genética só admito que aconteça num número reduzido de casos. Todos os outros casos são mesmo é fome e exercício físico. Sofrimento, portanto!
Quando era mais nova bastava meter na cabeça que tinha que emagrecer, que não havia nada que me detivesse. Hoje em dia, cada vez mais, só me apetece é comer, estou sempre com fome, não tenho força de vontade nenhuma, cada vez mais comer é um prazer, comecei a sentir um chamamento irresistível dos doces, coisa que não era característica vincada minha. Talvez a idade e aquilo por que passei me tenham transformado. Eu, que era tão rigorosa com a preocupação em não ultrapassar determinada fasquia em termos de peso, tendo por isso algum cuidado com a dieta, simplesmente pareço ter secundarizado esse aspeto, desistindo de viver obcecada com a figura.
E tenho pena... Tenho pena de ter perdido a minha capacidade de controlar esta área da minha vida. Sobretudo porque não me sinto bem com os quilos extra que carrego. Dispensava pelo menos 5 quilos, neste momento. Ou 8, vá!... E depois há o problema da alteração do corpo ao longo da vida. Eu, que mesmo depois dos partos, não acumulei gordura abdominal, agora tenho banhas na barriga!? Imagine-se que dantes a minha preocupação era a acumulação de gordura no rabo e nas coxas! Não sabia nada da vida! Problemático é quando a preocupação passa para a barriga. Poder ficar com um corpo de galinha, barriguda, isso sim é um problema!
Por isso é que estou, desde ontem (Uau! Um dia! Grande conquista!), a tentar regrar mais o que meto na boca. Vou tentar reduzir os hidratos e as quantidades de alimentos que ingiro, vou tentar beber mais água, e essas coisas todas que nós sabemos que se deve fazer para emagrecer. Menos o exercício físico. Neste momento da vida não consigo conciliar (vocês sabem que isto tem andado complicado para estes lados...).
E pronto, é isto. Vou dando notícias dos progressos. Ou será mais dos retrocessos? Vamos ver...
Ainda no seguimento do assunto de ontem, abordado aqui, lembrei-me do Livro do Desassossego, onde Fernando Pessoa disse: “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito”.
Ando numa fase de baixa autoestima. Nota-se, não é? Queria mudar uma série de coisas em mim. Queria erradicar as rugas que já se instalaram. Queria perder uns quilitos. Queria ostentar no corpo a firmeza que mantenho em termos de personalidade e caráter. Queria voltar a ter o viço dos 20 anos. Aspiro ao impossível, portanto.
Mas asseguro que não quero ser perfeita. Só quero sentir-me bem comigo própria. Hoje começo, pois, a cuidar mais de mim. Perante os tontinhos (vós!... mas entendam o termo como carinhoso) que ainda perdem tempo com as minhas baboseiras, comprometo-me a ter mais cuidado com o meu corpo. A partir de hoje vou ter mais atenção ao meu invólucro. Tenho a certeza que interferirá positivamente com o meu estado de espírito, que não tem andado nada recomendável.
Há diferenças entre homens e mulheres ao nível do autoconceito da forma física? Qual é a representação que uns e outros têm da sua própria imagem corporal?
Alguém que conheço, um “rapaz” da minha idade, uma vez, em conversa sobre o envelhecimento e o aumento de peso e outras manifestações corporais da passagem do tempo, disse-me que continuava a ver-se tal e qual como era aos vinte e tal anos, apesar de saber que na realidade, vinte anos volvidos, já não é nada assim. A representação que ele tem dele próprio, apesar de racionalmente ter consciência das marcas deixadas pela idade, é a de um jovem adulto atlético. Curioso e inusitado, não é? Ou nem tanto?
Será da forma que ilustra o cartoon humorístico que partilho que se processa a perceção da própria imagem para a maioria dos homens? Com as mulheres sei eu que não funciona assim, como também confirma o cartoon. Nós tendemos a ver-nos com mais defeitos do que aqueles que na realidade temos. A visão do nosso reflexo no espelho pode interferir negativamente em todo um dia, uma semana, uma vida. A beleza é manifestamente sobrevalorizada para (e pelo) sexo feminino. “Cristina, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental”. Quem se lembra? Cantado por uma mulher, ironicamente! Enquanto os homens podem ter uma barriguinha que isso até é considerado sexy, nas mulheres é um drama. E por isso passamos a vida a lutar contra a nossa própria natureza e nesse aspeto, e à conta disso, somos complexadas e infelizes grande parte das nossas vidas. Mesmo as que dizem que não!...
Acredito que, de um modo geral, por pressão da própria sociedade, a obsessão com a imagem física está presente ao longo de toda a vida de qualquer mulher! Se as rugas, as gorduras localizadas e a celulite próprias da condição feminina aparecem, ou é um drama que temos que erradicar com cremes e dietas e outras mezinhas, ou deixamo-nos vencer por elas mas vivemos eternamente tristes na nossa pele! Temos vergonha de mostrar o corpo, usamos roupas largas e pouco reveladoras, recusamo-nos a usar a balança da casa de banho para não ver o ponteiro a subir, deixamos de tirar fotos, principalmente planos aproximados. Um drama!
Quanto aos homens, acredito que se se vêem como uma mulher se vê, é porque têm o cromossoma x hiperdesenvolvido, o que é o mesmo que dizer que são um bocadinho para o efeminado. E pronto, com isto limitei a possibilidade de ser contrariada nesta teoria. Há por aí algum que se atreva a dizer que se vê com defeitos? Bem me parecia... (Um bocadinho de nonsense para rematar a conversa... Falta de imaginação... )
(Imagem retirada do Pinterest. Uma frase "inteligente" para conferir alguma respeitabilidade a isto... )
Hoje apresento-vos a P., uma colega de trabalho. A P. é uma quarentona que por sua iniciativa saiu de um casamento infeliz e procura agora recuperar a juventude feliz que lhe foi negada em vários anos de amor(es) não correspondido(s).
A P. diz sem embaraço que nunca amou o marido, que nunca teve sexo prazeroso com o marido, que casou por casar e que se arrependeu de o ter feito. Toda a vida uma mulher obesa, fez guerra aos quilos e conseguiu vencer. É agora magra como sempre quis. É alta, barulhenta, gosta de dar nas vistas, usa um brilhante num dos dentes da frente, apresenta-se ossuda e chupada do jejum imposto pela operação ao estômago que lhe retirou a capacidade de emborcar as toneladas de comida a que estava habituada. Com o jejum forçado, diminuiram-se-lhe as carnes e cresceram-lhe ossos e peles e, assim, a P. descobriu o viciante mundo das operações plásticas. Já retirou quilos de pele dos braços, das pernas, do rabo, das pálpebras, da barriga e deixou o silicone das mamas para o fim (parece que está para breve) porque o SNS não comparticipa e ela tem que amealhar umas coroas para o conseguir fazer. Mas elas, as mamas, também não escapam, já assegurou! Ganhou gosto por roupas justas e insinuantes. Veste frequentemente de preto, aparentando estar constantemente preparada para ir a uma festa e parecendo dizer "com um vestido preto nunca me comprometo". Ou "sou boa comó milho"... Não, não é... Já lá vamos...
Quem convive com a P. queixa-se das observações pejorativas que ela faz constantemente sobre os seus aspetos físicos e as suas indumentárias (das colegas). Eu até costumava dizer que isso era só uma defesa de alguém que não gosta de si próprio, com fraca autoestima, desculpabilizando-a. E é! Para mim, o complexo está nela própria, que vive obcecada com a remodelagem total de um corpo de que nunca gostou. Até que chegou o dia em que me calhou a mim...
A primeira investida dela, há uns anos, foi dizer que tinha feito a operação às pálpebras porque estava com os olhos descaídos... (adivinhem!?...) como eu! Que desplante! Mas relevei, respondendo uma graçola qualquer. Eu até sei rir-me de mim própria! Ah, e os meus olhos, garanto, sem contar com a ponta de miopia que os caracteriza desde os meus 18 anos, estão muito bem e recomendam-se, por acaso.
Mais recentemente, irrompeu pelo meu gabinete (que até tinha um letreiro na porta a solicitar que não interrompessem porque estava a resolver um assunto importante) e fez-me este comentário: "Ai e tal, aquela selfie que tu colocaste no FB, tão perto. Ficaste com a cara em grande plano. Não pode ser, tens que afastar mais, para não se verem as rugas e não ficares mal". Assim, sem mais!
Say what?! Já é demais! Ela ainda lhe toma o gosto, começa a fazer comigo o que faz com as outras colegas e isto não para...
E, por isso, eu, com a minha costela minhota, costela por acaso sobrecarregada pelas ralações desse dia, desta vez não deixei de dar uma resposta à altura. Só me faltou perguntar-lhe se não tinha espelhos em casa. Não fui tão clara, mas ainda lhe disse que, apesar da má foto, ainda havia quem ficasse pior do que eu nas fotos do FB. Para bom entendedor... E disse que não se preocupasse, que eu não andava a tentar agradar a ninguém e que o M. gosta de mim tal como eu sou. Toma, que é para aprenderes! Tu, a quem o bisturi ainda não foi competente o suficiente para que alguém te dirija um segundo olhar.
Saiu do pé de mim com o rabo entre as pernas!
Não me pisem, pessoas, que eu sou brava! Não gosto de espezinhar ninguém, mas não me lixem!
É que vou observando cada vez mais que temos pena das circunstâncias de vida das outras pessoas, vamos desculpando as suas indelicadezas, e elas não têm pejo nenhum em deitar uma pessoa abaixo! Detesto isso, porque sou muito cautelosa e empática na forma como me relaciono com as pessoas que se vão cruzando comigo. Sempre me deixei guiar pela máxima de não fazer aos outros o que não gostaria que me fizessem a mim.
Eu até aceitaria aquela observação de outra pessoa, mais próxima. Eu, a bem dizer, também não gostei muito da foto mas estou-me positivamente a cagar para isso! Agora da P., que ofende as pessoas de forma gratuita, não! Sou uma pessoa que sabe rir-se de si própria, como disse, e até gosto. Também sei que não sou nenhuma brasa mas também nunca fui feia, e até sempre fui considerada interessante pelo sexo oposto, até porque o interesse está em variadíssimas coisas (presunçosa!!! ). Hoje em dia sei que já tenho marcadas no rosto e no corpo tanto a idade como o sofrimento pelo qual já passei, sei que tenho 6 quilos que gostaria de irradicar, sei isso tudo. Convivo bem com isso. Agora a P. criticar a minha aparência numa miserável selfie do FB? Como é que hei de dizer isto para ser bem clara, sem parecer arrogante?... "Portantos"... A P. é, digamos, um bocadito para o... FEIO... assim COMO UM BODE DESENGONÇADO, mas com uns dentes bonitos, vá! E, apesar disso, nunca me passaria pela cabeça confrontá-la, nem ao de leve, com essa realidade. Chama-se a isso respeito pelo próximo.
Talvez ela agora mostre algum desse respeito. Talvez deixe de espezinhar os outros para se sentir melhor com ela própria. Pelo menos comigo vai pensar duas vezes antes de dizer o que não deve. Ouvirá sempre o que não quer... Não é assim que diz o ditado popular?
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