Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
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O P é um rapaz de 16 anos, com alguma irreverência própria da idade mas com bom coração. Só não liga à escola.Nem sequer leva os livros para casa. Ficam no cacifo durante todo o ano. Não vale a pena levá-los. Afinal, não iria estudar mesmo. Corre, por isso, o risco de chumbar, mais uma vez.
Vive com a mãe e uma irmã mais nova, com muitas dificuldades, numa habitação humilde, sem as mínimas condições, com algumas divisões em terra batida. A mãe é uma boa mãe, trabalhadora, e luta diariamente para criar aqueles dois filhos sozinha. Conta também com a ajuda de terceiros.
O P tem o pai preso. Disparou contra um homem na sequência de uma briga. Mas não teve culpa, diz o P. Vão visitá-lo ao fim-de-semana. A mãe, esposa extremosa, leva-lhe sempre dinheiro para os gastos na prisão, apesar das dificuldades em criar os filhos.
O P sabe que precisa ajudar a mãe no orçamento familiar. Trabalha muitos finais de dia, depois da escola. E quase todos os fins-de-semana, na agricultura. Pagam-lhe 5 euros à hora. 30 euros por dia. É uma boa ajuda, diz ele.
O P não estuda. Mas podia estudar, em cima da sua cama, diz ele. Dormir lá é que não pode, desde que o soalho do quarto abateu. Agora tem dormido no chão, no quarto da mãe, ao lado da cama onde ela dorme com a irmã mais pequenina.
Estamos a dois dias do Natal e eu ainda não me referi a esta época, a não ser para dizer que estou com pouco espírito natalício. Faço-o hoje.
E como não consigo dissociar a época do Natal da consciência que tenho de que há quem não tenha condições para passar um Natal (para não dizer uma vida) no calor de um lar confortável e feliz, dedico esta imagem e principalmente a respetiva legenda a todos aqueles que sendo crentes, são também contra (e temem como se de portadores da peste se tratassem) a vinda de refugiados do médio oriente, esses seres detestáveis, sujos e perigosos para a sociedade ocidental.
Amén, irmãos! Jesus, aquele bebé que vocês colocam orgulhosamente num presépio, nas palhinhas, entre uma mãe e um pai de refugiados e que fica ali toda esta época a ostentar a vossa religiosidade e santidade, estaria muito orgulhoso de vocês.
É que é tão comum esta combinação de religiosidade e xenofobia (na mesma pessoa) acontecer! Ainda um dia destes uma pessoa conhecida, evangélica de religião, dissertava num grupo de amigos sobre os perigos que representavam os refugiados para o nosso e outros países europeus. Eu não resisti a comentar só isto: "Dizes-te cristã e esse discurso é muito pouco cristão da tua parte!" A conversa acabou ali. Dizer mais o quê? Cada vez tenho menos respeito por beatas e por pessoas de muita fé em divindades e pouco respeito pelo próximo e, em última instância, pela humanidade. Raramente aplicam essa fé nas situações concretas das suas vidas e raramente usam essa fé para o bem.
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