Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
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O M., que é muito interessado por estas questões da explicação da História (e das estórias que a povoam), está a ler um livro que, segundo ele, vale a pena ler porque com ele se entende melhor o fenómeno do culto mariano que, afinal, não foi exclusivo de Fátima, e que percorreu uma época e um determinado contexto históricos. O livro é este:
Sabiam que, de acordo com a pesquisa do autor do livro, existem relatos um pouco por todo o país e fora dele (veja-se o caso de Lourdes, em França), inclusive em datas anteriores e também próximas a 13 de maio de 1917, de avistamentos da Nossa Senhora por crianças pobres, em cenários ermos, parecidos com o que envolveu os três pastorinhos de Fátima? Houve até um em data coincidente, uns séculos antes - 13 de maio de 1757, na região de entre Douro e Minho. E mais próximo do fenómeno em Fátima (entre 1914 e 1917), houve também fenómenos parecidos em Estarreja, Ponte da Barca, Póvoa de Santarém, Póvoa de Varzim, Constância, etc. O que aconteceu foi que todas estas tentativas narrativas não pegaram e caíram no esquecimento. Só Fátima vingou. Curioso, não é?
O livro faz a contextualização histórica destes fenómenos, o que nos deixa a pensar sobre as razões para a emergência dos mesmos e o peso decisivo da ação humana (por parte de setores clericais afetos à Igreja Católica) em contrapartida ao argumento sustentado até aos dias de hoje pela fé do Homem.
O livro trata de forma séria e factual este assunto, mas mesmo assim haverá quem negue extrair algumas conclusões que me parecem óbvias pelos factos que nos são apresentados. Mas não eu! Eu sou mais racional do que orientada por espiritualidade e misticismo, confesso. Por isso, não tenho qualquer preconceito em questionar as crenças dominantes...
Temos, no dia de hoje, uma espécie de nova versão dos "três F", os três pilares da ditadura de Salazar para a pacificação e alienação da população: "Futebol, Fado e Fátima".
Este foi o cenário que encontrei no último fim-de-semana em vérios pontos ao longo de uma estrada nacional. Muitos são os que caminham para Fátima nestes dias. De todo o lado crentes se dirigem à Cova da Iria, o que a mim me causa alguma... "estranheza", incompreensão, como se de um surto coletivo se tratasse, mas também de profunda admiração. Quanto a eu ir a Fátima nestes dias da visita do Papa Francisco? Nem pensar! Muito menos a pé, com todo o respeito pelos crentes.
Muito haveria a dizer sobre Fátima, principalmente sobre a relação entre fé e interesse comercial, mas nestes assuntos acaba-se sempre por ferir suscetibilidades e não vale a pena. Só vos digo uma coisa: ser crente a ponto de caminhar quilómetros pela fé, e até rastejar nos últimos metros do percurso ficando com os joelhos em frangalhos, deve dar um consolo e uma satisfação do caraças!... Em contrapartida, a racionalidade afasta-nos de comportamentos masoquistas, protegendo-nos por essa via a integridade dos pés e dos joelhos (o que não é mau!), mas retira-nos a felicidade que advém da ilusão de acreditar na vida eterna, na salvação e no paraíso. Escapa-se-nos o êxtase da fé.
Sim, vale a pena ser crente. Mesmo com os pés cheios de bolhas, os joelhos a sangrar e a graça pedida nunca recebida, ainda assim é mais feliz quem acredita.
(Só um àparte. Sabiam que já há na net anúncios de negócios de pagadores de promessas profissionais? Ah pois é! Encontrei um que, para além da sua atividade de agente imobiliário, tem o negócio de pagar promessas alheias por €2.500 cada peregrinação e ainda tabelas de preços para rezar o terço, velas e essas coisas. Espiritualidade e rentabilidade, em Fátima, caminham sempre lado a lado. Enfim, é a economia do país a mexer...)
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