Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
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Hoje o meu filho faz exame de Português do 9º ano. Sabem aquela angústia, aquele nervosismo natural na época de exames, aquela pressão muitas vezes auto-infligida, comprimidos para a memória e ansiolíticos? Estão a ver o estudo pela noite dentro, as noites mal dormidas, as horas gastas a treinar todos os exames já realizados?
Pois... Nada disso mora aqui! Pensam que ele acusa algum nervosismo? Nem pensar! O gajo "tá na boa"! Aliás, nos últimos dias tem tido bué de programas com os amigos, desde tardes passadas na piscina a jantares com os amigos e festas de aniversário. Não percebo nada disto. Diz-me "mãe, o que queres para mim é que eu só estude e seja infeliz?" Não, realmente não quero. A socialização e a integração no grupo são importantíssimas nesta fase do crescimento, na adolescência. Eu sei disso, mas só queria que ele estudasse um bocadinho mais...
Bem, o que é certo é que ele está relaxadíssimo e ontem até me provou que sabe os processos fonológicos todos de fio a pavio. Portanto, venha a paragoge ou a síncope ou a apócope, que ele sabe isso tudo. O problema é que pode não sair nada disso e ainda ontem ele não sabia o que era o hipérbato...
Mas também, convenhamos, o que interessa isso? Na minha modesta opinião, acho que deve mesmo haver uma discussão alargada à volta dos currículos portugueses. Ouço dizer que este Governo quer promover isso. Vamos ver... Por exemplo, na disciplina de Português deveria ser mais importante ser capaz de usar os recursos expressivos do que saber o nome deles. Ou seja, motivem-se mais os alunos para a leitura e ensine-se a ler e a escrever! Por causa destas e doutras é que há gente a sair das universidades que não sabe escrever sem erros ortográficos, quanto mais saber usar vocabulário diversificado e recursos expressivos ricos. Mas, pelos vistos, como as coisas estão, desde que saibam o que é um determinante ou um pronome, já têm um excelente domínio da língua de Camões!
Por falar em Camões, será que sai "Os Lusíadas"? Ou sairá Gil Vicente? Ai! Que nervos!
É a mim que o meu filho recorre quando precisa de um conselho, de uma opinião, ou quando quer confidenciar algum aspeto da sua vida. Mas só ele. A minha filha é muito fechada e dela não consigo extrair nada. Ele, pelo contrário, procura-me para partilhar variadíssimas situações, dúvidas, conquistas. Curiosamente ou não, nunca procura o pai.
Ontem, apesar de andarmos amuados nos últimos dias, ao final do dia abordou uma série de assuntos, numa conversa de mais de uma hora, só nós os dois. Fui confrontada com notícias deliciosas e com outras mais preocupantes que deixo para outra altura.
Vamos às deliciosas. O mesmo menino de 14 anos que há uns meses quis que eu falasse com ele sobre sexo, deu-me agora a conhecer um bocado da sua vida amorosa. Já tem a sua primeira namorada, uma menina que eu conheço. Fiquei a saber que namoram desde dia 1 de janeiro, e tudo começou na festa de passagem de ano à qual foram em casa de amigos.
"Mãe, mas queres saber como começámos a namorar? Eu soube fazer tudo como deve ser. Eu sou um gajo romântico. Não imaginas como foi romântico! Aposto que com o pai não foi assim. () Foi durante as badaladas da meia noite que eu lhe perguntei se ela queria namorar comigo."
"E depois, ela disse que sim?"
"Não. Deu-me um beijo. E todos bateram palmas e estão a torcer por nós."
"Realmente foi muito romântico, filho!"
Fiquei feliz com este relato. Claro que dei mil e um conselhos, nomeadamente disse-lhe para tratar sempre bem a menina e essas coisas todas. Mas achei tão giro. Será normal eu ficar tão feliz pelo meu filho, apesar de ele ser tão novo? Muitos acharão que é muito cedo para namorar e que eu não devia dar liberdade para isso. Mas não é delicioso que ele tenha abertura para me contar as suas histórias mais importantes e íntimas? E está apaixonado! Que maravilha!
Pois é! Neste momento, sou já uma mãe com uma "nora" e um "genro" (a minha filha também já namora há mais de um ano com um rapaz). E nunca pensei que fosse enfrentar isso com tanta naturalidade. Gosto deles! Talvez seja prematuro gostar deles, mas gosto. Percebi que talvez venha a ser uma sogra "fixe".
Pelo menos, foi assim que, num "ai", deitei para trás das costas uma das ralações que me apoquentava, o sentimento de impotência saído dos conflitos de gerações dos últimos tempos. Afinal talvez não seja assim um ser tão desprezível aos olhos dos meus filhos adolescentes...
Afirmação repetida inúmeras vezes, em vários contextos, pelo filho:"Todos me conhecem e eu conheço toda a gente lá na escola. Todos gostam de mim! Sou mesmo social!"
E é isto!
Comentário:
E não é que me parece que é mesmo verdade... É mesmo popular, o gajo!
Lembrar-me-ei sempre daquele dia em que estava à espera dele e da irmã ao pé da escola, para os levar para casa, no final de um dia de aulas. Perto estava um grupo de quatro ou cinco adolescentes (rapazes e raparigas) a conversar. Não pude evitar ouvi-los e claro que as conversas, infelizmente, eram as típicas de uma geração (não todos, mas seguramente a maioria) que não diz nada de jeito e a forma como adorna o seu discurso é com recurso sistemático a gíria e calão.
Foi exatamente por causa do calão com fartura que a certa altura, percebendo que eu podia ouvir o que diziam, sussurra um: "Chiu! Vê lá o que dizes. Está ali a mãe do ... (Acho graça, porque ele é conhecido pelo apelido de família e não pelo primeiro nome - uma tendência que surgiu dentro das quatro linhas, no futebol).
Ou seja: eu não era eu, nem a mãe da minha filha que frequenta a mesma escola, nem a mulher do M (que todos conhecem cá no burgo devido à notoriedade que advém da sua ocupação). Não! O que obrigaria aqueles jovens a filtrar o discurso seria o facto de estar ali não eu, mas a mãe do meu filho. Vejam bem!
Como o tempo passa! O meu caçula parece já ter encontrado o seu lugar na comunidade. E o meu, pelos vistos, é ser mãe dele...
Jesus - Maria - José, que, ontem, a tão temida conversa mãe-filho aconteceu. E, pasmem-se, eu saí dela viva! E aliviada!
O meu filho caçula de 14 anos chamou-me ao seu quarto, à noite, e pediu-me para fechar a porta atrás de mim. Sempre teve esta tendência para, quando se trata de assuntos importantes e/ou sigilosos, escolher-me a mim para, dentro de quatro paredes, ser a sua confidente.
Eu já a imaginar o que estaria para vir.
Abriu as hostilidades queixando-se de que eu nunca falava com ele sobre alguns assuntos.
Mas sobre o quê, por exemplo?
Começou, a medo, por falar da depilação.
Depilação? Mau Maria! Eu já a pensar que ele queria rapar os pêlos das pernas e delinear as sobrancelhas e todas essas merdas que os metrossexuais fazem. Gelei! Cá para mim, homem que é homem, não pode ter o corpo mais suave do que o de um bebé.
Não era isso, felizmente. Só fiquei a saber que já tira um ou outro pêlo entre as sobrancelhas para não lhe chamarem monocelha. Meu rico filho! É tão lindo! Qual monocelha, qual quê?
A introdução da depilação serviu só de rastilho para "o assunto". Queria que eu falasse com ele sobre sexo, pois claro.
E conversámos. Por iniciativa dele, conversámos. Tivémos a conversa que eu sempre planeei que fosse o M a fazer. Mas foi comigo que o meu filho quis ter esta conversa e eu fiquei tão feliz com a confiança que ele depositou em mim! Tão feliz!
Conversámos com uma naturalidade que eu não imaginei que fosse capaz de ter. Não interessa entrar em pormenores sobre o teor da nossa conversa, só dizer que foi natural e sem vergonha e tabus, entre uma mãe e o filho de 14 anos. Envolveu inclusive a curiosidade dele em relação à minha história com o pai, manifestações físicas da puberdade, entre outras dúvidas que tinha.
E depois desta conversa sinto como se tivesse atingido um novo patamar na nossa relação de mãe e filho, todo um novo nível de intimidade e confiança. E sinto um orgulho tão grande! O meu menino está a crescer, a despertar para essa faceta importante da vida que é o sexo, mas neste como noutros assuntos, ainda é a mim que recorre para o guiar no caminho.
Não, não se ponham a adivinhar o que aí vem. Como dizem os ingleses, "you wouldn't see this coming..."
Situação:
Os filhos vão a um concerto, aquele de que falava aqui. (Sim, afinal foram... )
A mãe, precavida: "Filho, não leves o telemóvel. Ainda o perdes." (A irmã levava o dela na sua mala, por isso havia forma de nos contactarmos, caso fosse necessário)
Resposta do filho: "Ó mãe, tenho que levar. O telemóvel é importante para quando não queremos estabelecer contacto humano!"
Olha para o gajo! Já conhece a manha!
Realmente, temos aqui um paradoxo interessante: um instrumento que foi inventado para aproximar as pessoas, hoje pode ser usado para as afastar...
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