Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
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Há uma coisa que é a teoria e o que ditam as regras. Tudo aquilo que vem nos livros, vá! Livros que, bem vistas as coisas, eu até li.
Outra coisa é a prática. E, por vezes, o contexto da vida, o enquadramento da coisa obriga a que se infrinjam todos os ensinamentos que obtivemos e todas as regras que encontrámos plasmadas nos livros.
Posto isto, eu, pecadora, me confesso. "Ajeitei" um trabalho da escola ao meu filho, um TPC. "Que vergonha! Que irresponsabilidade! Que mau exemplo de parentalidade!" são todas expressões que poderia ser eu a utilizar sobre uma situação como esta que eu conhecesse a outrem.
Mas isto não aconteceu de forma gratuita, não! Nem é algo que eu costume fazer, muito honestamente. E nem concordo com isso. Lá está, li os livros. Mas desta vez tive que o fazer. Tratou-se de um trabalho em powerpoint para ele apresentar hoje. Oxalá lhe corra bem, meu rico filho!
Vamos lá ver...o meu filho fez o conteúdo do trabalho, atenção! Eu só dei um jeitinho estético ao template e até simplifiquei algumas frases, para lhe ser mais fácil a apresentação. Ah, é verdade! Faltou dizer que é um trabalho de pares. Assim, acabei por "ajeitar" o trabalho do meu filho e de um colega. Duplamente culpada!
E porque é que fui fazer uma coisa destas?, perguntam vocês.
Alguém por aí tem filhos em idade escolar? E no secundário, como é o caso dos meus? Pois... Quem tem ou teve, ou até mesmo recordando-se do seu tempo de estudante, saberá como é esta época de final de período. Senão, vejam: esta semana, o meu filho tem 3 fichas de avalição de 3 disciplinas estruturantes do curso, com carradas de matérias para estudar, e ainda a apresentação do tal trabalho. Isto numa semana de escola de 4 dias. Ora, quer dizer, não é fácil... É areia demais para camionetas tão "pequenas". Ou ele perdia tempo a ultimar o trabalho ou estudava para as fichas. E a dedicação a um trabalho que valerá muito pouco, prejudicaria o estudo para as fichas que, essas sim, têm um grande peso na avaliação. Vi-o aflito e foi aí que entrei eu. Mãe é mãe!
Grande exemplo de pedagogia que eu trago hoje!...
Vá lá ver... quem é que vai atirar a primeira pedra?
Leram? É nestas alturas que vejo que não devo ser assim uma mãe tão má! Bem, basicamente sou, aos olhos da filha, uma controladora, mas uma controladora com alguma legitimidade, porque amo os meus filhos.
Os filhos percebem as nossas atitudes! Embora haja conflitos e a adolescência muitas vezes pareça toldar-lhes o raciocínio, eles percebem!
Nota:
Texto feito às três pancadas pela filha (TPC de Português de há uns meses) e nem um único erro ortográfico! Tanto orgulho na minha menina!
Apesar de tudo, os meus filhos são bons meninos. Mas são adolescentes, com tudo o que isso carrega: têm oscilações de humor, culpam os pais de variadíssimas coisas, reclamam direitos, são por vezes irreverentes, e até contestam a nossa autoridade. Nada que eu não fizesse quando era da idade deles.
Na aprendizagem escolar não têm tido problemas. Ela está no 10º ano com uma média de 17 valores no Curso de Ciências e Tecnologias; ele está no 9º ano com média de 4. Ele é mais calaceiro que ela e menos ambicioso e esforçado. No entanto, neste último período representou a escola no corta-mato distrital do Desporto Escolar e participou no Parlamento dos Jovens, sendo apurado para ir à Assembleia da República e tudo, em representação da sua escola. O gajo tem à-vontade para falar em público e alguma oratória, pelos vistos. E os nossos filhos não devem ser na escola, a meu ver, apenas pequenos soldadinhos que só vivem para marrar as matérias para as fichas. São muito mais que isso e nós, pais, devemos promover essa formação integral dos nossos filhos.
Apesar de tudo isto que vos relatei, desde a semana passada, em que obtive o registo de avaliação do meu filho, fiquei a saber que o que a escola acha dele é que pode melhorar o rendimento escolar (pois pode, ainda pode ter média de 5, que é o que se segue ao 4) é pouco empenhado e, vejam isto, pouco responsável. Nem uma referência às coisas boas que ele fez e das quais a escola deveria ter orgulho. Pelos vistos escolheram um miúdo pouco responsável para cumprir papeis tão importantes ao nível desportivo e cultural, um papel que não seria qualquer um que conseguiria desempenhar. Questiono-me como serão os outros alunos da escola, para terem escolhido o meu!... E eu, uma mãe que entrou naquela reunião tão orgulhosa dos feitos do seu filho neste período, saí dela completamente no fundo de um poço de onde ainda não saí.
Porque é que em todas as áreas da vida e situações o ser humano só se fixa nos aspetos negativos? Porque é que não se valoriza e elogia mais? No caso da escola, eu percebo que o objetivo é que os alunos melhorem o rendimento escolar e aceito as críticas. Mas será que é não valorizando os pontos fortes dos jovens que se consegue melhorar o que há para melhorar?
Fiz questão de transmitir esta minha posição na reunião. Mas isso não me aliviou deste estado de tristeza e deceção que sinto. E acho que não fui sequer compreendida. Resta-me fazer ver ao meu filho que sei que ele pode trabalhar mais e vou investir nisso com ele, mas fiquei mais certa do que nunca que tenho que lhe demonstrar que sou a mãe mais orgulhosa do mundo nas suas conquistas. Não vou permitir que ele fique no estado em que me deixaram a mim.
É uma pasta de arquivo de fichas e outros documentos escolares, organizadamente separados por disciplinas para o aluno estudar. E acrescentarão que deve pertencer a um aluno muito organizado, metódico com o seu estudo.
Certo... até certo ponto.
É que esta pasta de arquivo foi organizada por uma aluna que é tudo isso, mas não o fez para si própria, mas para outro aluno, no caso, o irmão caçula.
No final do ano letivo passado, como fazemos todos os anos, fez-se a "limpeza" das secretárias, arrumando todo o material escolar do ano letivo que acabou e preparando-se espaço para o novo que haveria de chegar.
Entre esses trabalhos, a minha rica filha primogénita organizou esta pasta de arquivo com os seus belos apontamentos e testes realizados no ano passado, tudo direitinho, para o irmão este ano poder recorrer a tudo aquilo, numa espécie de passagem do testemunho, qual corrida de obstáculos por equipas com divisão pouco equitativa do esforço individual dos atletas.
E sabem uma coisa? Nos últimos testes, ele, calaceiro, em vez de fazer os seus próprios apontamentos para Físico-Química e Ciências Naturais, estudou pelos da irmã. Foram urgências, que o gajo é mandrião para ler e escrever resumos. Teve que ser. É claro que também fez exercícios à conta dele e isso tudo, mas encontrou ali nos apontamentos da irmã uma ajuda preciosa. Não posso deixar é que se transforme em rotina, senão ele não desenvolve as suas próprias competências.
No fundo, não foi nada de mais! Ou não fosse ela mulher e ele homem... Os gajos começam cedo a depender das gajas!
Ontem, a caminho de casa, dei por mim a pensar que finalmente tinha um intervalo de sossego, um pedaço de tempo para mim, uns parcos 15 minutos só meus para relaxar. Até tive medo de adormecer ao volante, tal era o entorpecimento depois de um dia cheio de adrenalina que desafiou os meus nervos até ao limite. E estava certa em aproveitar aqueles instantes: chegando a casa não foi melhor. Cenas com o mais novo, que está a despertar para a irreverência imprópria da adolescência.
Tem sido assim, ultimamente: no trabalho mil e uma situações, em casa dois que dão quase o mesmo trabalho. Dois não! Três, que o pai dos adolescentes também dá trabalho com fartura, principalmente quando não tem tempo ou disposição para participar da educação dos filhos! Mas ontem teve que ser mesmo chamado à pedra, que eu já não estou a conseguir dar conta do recado. Que sentimento de impotência, que desespero me assola de vez em quando desde que a puberdade chegou cá a casa... Com bebés era bem mais fácil...
E agora pergunto:
O que dizer desta fase da vida de uma pessoa em que o momento mais relaxante do dia é o trajeto emprego-casa?
Hoje estou com a neura. Sinto-me tão diminuída! Literalmente!
Acabei de constatar que já nem de saltos altos atinjo a altura do meu rapagão de 14 anos. Como é possível um crescimento tão acelerado? É de um dia para o outro... Impressionante!
E o gajo, apercebendo-se do meu estado de negação, ainda me puxou para posar com ele em frente a um espelho, lado a lado e, ostentando o seu orgulho desmedido em centímetros e a estes diretamente proporcional, obrigou-me a aceitar esta triste evidência. Sacana d'um raio que está a crescer tão depressa!
Cria uma mãe um filho para isto! Qualquer dia está a apresentar-me a uma nora, o traidor, o ingrato! Tchhhh!
(É evidente que estou a brincar. Está tão lindo o meu filho! E a minha filha também!)
Como disse, cá estou eu com os apontamentos deste dia quase exclusivamente dedicado à minha saúde:
Nas análises ao sangue, logo de manhã:
Analista: "Como está? Está com bom ar, um ar VIVO!"
Pois, morta não estou, não. Mas eu percebo o que ele queria dizer. Não é tanto o cancro, mas sim os tratamentos ao cancro: deixam-nos com um aspeto doente, amarelo, mau. Por isso, aceitei como um elogio e fiquei feliz.
Seguiu-se o tempo de espera pela consulta. As análises demoram cerca de duas horas e a doutora ia, justificadamente, atender primeiro os doentes que fariam quimioterapia a seguir. Aproveitei o compasso de espera para ir a outro consultório levantar as análises à urina, aquelas que identificariam a bactéria e me confirmariam se a bicha é sensível ao antibiótico que ainda estou a tomar. Sim, a bicha é sensível. Assunto resolvido!
Antes de voltar ao hospital, tempo para um cafezinho e um bolo carregado de creme como eu gosto, com o M. num café próximo. Tão bom, coisa rara! A única lembrança boa que tenho dos tempos dos tratamentos é a destes momentos a dois que nunca temos no dia-a-dia.
Regresso à oncologia. Muita gente, rostos tristes e amarelados, desmoronamento de um familiar num choro já longamente contido, cabeças cobertas por um lenço, boas almas voluntárias a oferecer café e bolinhos aos doentes. Nunca mais voltei à sala de tratamentos, mas espreito sempre para ver se há pessoas da minha idade ou se são menos jovens e, efetivamente, são quase só pessoas mais velhas. Tudo isso outra vez. Consulta já no início da tarde. Novidade ou talvez não: tratamento hormonal por mais 5 anos. Nada que eu não esperasse, mas que me deixou com um gosto agridoce. Conversa sempre interessante com a médica: os filhos, a escola, o estado da educação e da saúde em Portugal. Consulta daqui a um ano, e entretanto, em seis meses, consulta de ginecologia e mamografia.
Almoço tardio com o M. num restaurante habitual. O resto da tarde, enquanto o M. teve uma reunião de trabalho, eu fui às compras. Nunca posso ir em dias de semana e soube-me tão bem! Aproveitei e fui à operadora de telemóveis saber a razão de o dinheiro do telemóvel dos miúdos desaparecer a olhos vistos. Simples: plafond de internet ultrapassado e dinheiro a ser debitado à fartasana. A menina quase me convenceu a aumentar o plafond porque realmente, como está, ainda gasto mais. Mas quando já ia para fazer isto, caí em mim e percebi que eles tinham que tirar uma aprendizagem disto. Em vez de aumentar o plafond, bloqueámos o limite de maneira a que, quando o atingirem, não tenham mais dados móveis. Talvez no Natal voltemos a negociar de outra maneira. Por agora, tinham que ter um castigo.
Chegamos a casa. Filho no treino e filha a ver televisão. What else? Descobriu o raio da tal série num canal da televisão. Lembram-se dos impedimentos que definimos cá em casa? Pois! O jogo da playstation preferido desapareceu, o computador tem password e o portátil está escondido. Mas não desistem. São como a mãezinha deles. Para além da tarde de televisão porque coitadinha tinha tido uma manhã de trabalho intenso e sofrimento atroz nas aulas, à nossa espera, no memorando do frigorífico, juntamente com os convites da escola para a cerimónia de entrega dos Quadros de Excelência, tínhamos o seguinte texto. Deliciem-se!
Tirei a tarde de ontem para cumprir o meu papel de encarregada de educação das minhas duas crias, que ingressam este ano no 9º e 10º ano de escolaridade. Foi, como se adivinha, tarde de receção aos alunos e encarregados de educação na escola. Correu muito bem. Gostei de ouvir as Diretoras de Turma, principalmente o ensaboamento que a DT da minha filha deu aos alunos a propósito da importância de levar o estudo mais a sério. Afinal, trata-se do secundário, o grau de dificuldade aumenta, as médias têm que ser trabalhadas desde já, etc. Tudo muito bem. Até intervim na reunião, agradecendo e reiterando as palavras da professora. É claro que, conhecendo os habituais embaraços da minha filha quando abro a boca em público na presença dela, sabia que ela haveria de tecer algum comentário ao meu contributo. Dito e feito. Cá fora: "Ó mãe, tinhas que falar na reunião? Só tu é que falaste! Que vergonha!" A adolescência é mesmo assim! Já foi há algum tempo, mas já lá estive...sei como é. Não há crise!
A minha crise é outra. Já estou em ânsias com o início da rotina escolar. Começa agora o meu desassossego. É uma luta para assumirem os novos horários, é uma luta para os tirar da cama de manhã, é uma luta para os incentivar a estudar, é uma luta para cumprirem com os trabalhos escolares. Ufa!
Eles acabam por cumprir, mas nada é espontâneo, tudo é sacado a saca-rolhas. Vamos lá ver como corre este ano... Já estão supostamente mais maduros e blá blá blá. O que é certo é que eu já estou cheia de ansiedade por causa disto. Para se ter uma ideia do quão penoso é, até costumo dizer, a meu ver com toda a propriedade, que deveria ser eu a ir receber os diplomas de mérito escolar que eles receberão daqui a uns dias. Just kidding! Mas honestamente, se não fosse eu, eles não seriam os alunos que são. Seriam uns calaceiros da pior espécie, como tantos outros que se vão arrastando nas escolas.
Entre outros papéis óbvios, acredito que os progenitores/educadores têm um papel preponderante na definição do próprio percurso escolar dos filhos, desde o berço. Essa é que é essa! Cumprir o papel de educador presente é das tarefas mais difíceis que temos que desempenhar na vida, sem dúvida! No entanto, nunca podemos baixar a guarda. Por eles!
PS: Afinal acho que deixo a cena dos pulsos para outra altura...
Acho que já referi que tenho pena de não ter nascido rica. Bem, sou rica em muitos aspetos mas não seguramente em bens materiais. Tenho o necessário, felizmente. Mais até do que alguma vez pensei vir a ter.
Por isso, por não ser rica, sou daquelas que, como qualquer gaja que se preze, gosta de aproveitar todas as pechinchas, saldos, promoções, descontos, talões, eu sei lá. Gaja que é gaja não tem preconceitos em relação a isto! Faz-me um bem tremendo, ao nível psicológico, comprar uma peça por um preço inferior ao inicial. Sim, porque há artigos que eu adoro mas não sou capaz de comprar pelo preço inicial, muitas vezes simplesmente porque acho até imoral fazê-lo. E como eu tenho um gosto refinado e costumo embeiçar-me por coisas caras (lá está, deveria ter nascido rica!), muitas vezes acabo por comprar peças que tinha andado a namorar, com desconto, e sinto-me a mulher mais esperta à face da terra! E esta prática também ajuda a evitar o sentimento de culpa, porque muitas vezes não são artigos de primeira necessidade aqueles que ambicionamos, como a generalidade dos exemplares do sexo feminino admitirão. E as que não admitirem terem esta faceta "shopaholic" é porque muito provavelmente não gostam de si próprias e não suportam o seu reflexo nos espelhos dos provadores. Quem, por exemplo, não passou já por fases em que comprar roupa é um suplício porque sentimos que nada nos assenta bem? Eu já, muitas vezes! Agora, por regra nós gajas gostamos de compras e não acho que este seja um discurso machista. Homens e mulheres são diferentes, ponto. E ainda bem! Por acaso, parece-me que têm vindo a dissipar-se as diferenças neste âmbito, mas é mais no sentido de os homens cada vez serem mais vaidosos e parecidos connosco neste aspeto.
Ora, em época de saldos já avançada e com a nova coleção já a enfeitar muitas montras, é a altura ideal para fazer umas comprinhas baratinhas. E eu fiz! Fui descobrindo umas lojas maneirinhas nos últimos anos, nos passeios por lá e nas paragens para as refeições, nas viagens para o minho, onde encontro sempre peças lindíssimas. Até já tenho paragens obrigatórias! Nesta última estada no norte, descobri uma loja, em Braga, onde comprei as pulseiras da foto e até nem foi em saldo, porque me pareceu um preço aceitável. Posso dar o nome da loja ou o link do site para quem queira espreitar, embora, como se costuma dizer, não tenha comissão.
E assim chegamos às pulseiras. Ora aqui temos uma coisa de gaja-mãe à qual eu ainda não tinha aderido: adornar-me com símbolos das minhas crias e da minha condição de mãe. Agora já posso ostentar a minha maternidade no pulso! Ainda por cima com peças diferentes das habituais, que normalmente são pendentes em fios ou pulseiras. Giras, não são? Já me sentia uma espécie rara sem uma coisa destas, desde que parece que se convencionou que mãe que é mãe ostenta réplicas ornamentais dos seus rebentos... Pronto, assim já todos sabem que tenho muito orgulho em ser mãe de um casalinho. Poderia haver dúvidas em relação a isso, sei lá!...
Eu não avisei que ia falar de coisas de gajas (e de mães)?
PS: Só para provar que sou mesmo muuuiiiito esperta, o vestido que se adivinha na foto foi comprado também em saldos. Tinha um preço inicial de cerca de 100€ e eu comprei por 25€. Toma!
Família regressada das férias no norte ontem à noite e eu, hoje, com o dia reservado a pôr tudo em ordem cá em casa para poder iniciar o trabalho amanhã. Hoje tem sido só a fazer máquinas de roupa, secar, apanhar, porque quanto a passar a ferro, ela vai ficar pacientemente à espera que eu esteja para aí virada. Mas não é sobre vida doméstica que quero falar hoje.
Hoje tenho que deixar aqui um pequeno apontamento sobre a viagem de carro de regresso a casa de ontem, sobre a importância que ela teve para mim e acredito que para nós enquanto família. Uma simples viagem de carro que se constituiu como um marco que eu espero venha a ser muito importante na convivência e paz familiar.
Factos:
Ontem, inesperadamente (porque normalmente esse é o meu papel!), o M. aproveitou parte das cerca de 3 horas de viagem de carro entre o Minho e a casa onde escolhemos viver a maior parte do ano e onde têm sido criados os nossos filhos, para ter uma conversa muito séria com eles sobre crescimento saudável, valores, educação. Iniciativa dele, ele que eu tanto “acuso” de ser um bocado passivo no seu papel de pai e de manifestar falta de disponibilidade para os filhos (obrigações no emprego, etc)! Parece que finalmente me ouviu e fez tudo aquilo que eu tenho vindo a insistir para que fizéssemos, e que basicamente tem sido uma “luta” mais minha do que dele. É, nem tudo são rosas num casamento de 18 anos. Nem tudo são rosas no dificílimo papel de pai/mãe. Aliás, eu assumo que as maiores fontes de conflito entre mim e o M. (principalmente desde que os nossos filhos chegaram à adolescência) são aspetos relacionados com eles, com opções nossas e métodos usados na sua educação. Sim, todos sabemos o que dizem os livros e blá blá blá, e seria muito mais apelativo traçar aqui um cenário idílico desta difícil tarefa de educar filhos (pelo menos, para quem se importa!), mas não seria honesto da minha parte. A verdade é que, principalmente com a chegada da adolescência, tornou-se difícil incutir-lhes aquilo que entendemos inclusivamente ser o melhor para eles, para enfrentarem o mundo da melhor maneira. Continuo a achar que a adolescência é tramada! Mesmo tramada!
Mas acredito que priorizar na nossa vida acelerada a educação dos filhos dará inevitavelmente frutos e o M. parece começar a perceber também. Ontem foi mais um passo importante nesta caminhada a dois, melhor dizendo, a quatro.
Então, muito rapidamente, a conversa que me deixou nas minhas sete quintas versou principalmente sobre dois aspetos essenciais:
A necessidade de eles serem mais autónomos e responsáveis: colaborarem mais com as tarefas domésticas, passarem a gerir uma mesada (num e noutro caso, avaliamos como sendo culpa nossa eles serem pouco expeditos, já que fazemos tudo por eles, principalmente eu, o que poderá significar que estamos a criar totós que não têm autonomia, iniciativa, esperteza nenhumas);
A importância de não permitirmos que se tornem pessoas vazias de conteúdo, sem cultura, “caçadores de Pokémons” ou vegetais agarrados a um computador ou a um telemóvel dias a fio. Conversámos com eles sobre uma característica que consideramos preocupante na juventude atual: a ignorância, o desconhecimento do mundo, o facto de não lerem e não terem curiosidade pelo conhecimento, as obsessões com futilidades, a desvalorização do esforço e do trabalho, a desonestidade intelectual.
Esta é uma geração com a qual nos devemos seriamente preocupar. O que esperar de crianças, jovens e até adultos cuja actividade de eleição é caçar seres virtuais!? Explicámos-lhes que é por os amarmos muito que não queremos isso para eles. Terá valido a pena? Não sei, mas o sentimento de dever cumprido, a dois, em sintonia, como vem nos livros, a forma como ouviram as palavras e os ensinamentos dos pais, faz-me criar expetativas de estarmos a formar bons seres humanos.
Atenção! Quanto às pedras no caminho neste papel difícil de educador, faço também “mea culpa”: assumo que tenho muitos defeitos na educação dos meus filhos, nomeadamente ser demasiado controladora, como diz o M. Admito que não são raras as vezes em que me considero a pior mãe à face da terra. E isso acontece sobretudo porque lhes desejo o impossível: uma vida perfeita…
As férias escolares dos miúdos estão quase a acabar.Há mais de um mês, queixava-me eu aqui de que os meus filhos não ajudavam nas tarefas domésticas. Nesse dia, pus um ponto final, disse basta, isto tem que acabar, não pode ser assim, blá blá blá. Grande mãe! Grande mulher!
E hoje, já podemos fazer um balanço da resolução daquele dia? Sim! Já podemos! Continuou tudo igual. Foram à volta de três meses sem fazer nada a não ser brincar. Bem, se formos mais precisos, foram respetivamente 14 e 15 anos sem fazer nada!
Isto para chegar onde? Para chegar à conclusão de que realmente a culpa é minha. Eu é que, perante a "resistência" deles em fazer determinadas tarefas, para não me chatear, vou lá e faço. Mas não pode ser assim, eu sei. Tenho mesmo que encontrar uma forma de incentivar os miúdos a colaborarem mais nas tarefas domésticas. Para o bem deles! Sinto que não estou a criar indivíduos desenrascados, com autonomia e responsabilidade. Só que tenho um problema... É que o pai foi criado um bocadinho assim, um menino da mamã, não faz quase nada em casa e, pior do que isso!, não colabora o suficiente na imposição de rotinas nos nossos filhos para interiorização das mesmas. Nesta casa é tudo a mãe. Principalmente para fazer o papel de bruxa má, é a mãe. Gostava de poder descansar um bocadinho deste papel...
Realmente só quando somos mães é que compreendemos algumas palavras e atitudes das nossas próprias mães. Lembro-me de ouvir a minha mãe, perante o nosso (meu e da minha irmã) chamamento contínuo, dizer "Mãe isto, mãe aquilo! Já sei que sou mãe!" Aquela frase na altura fazia-me alguma confusão, mas hoje compreendo perfeitamente. Parece que há teorias que dizem que nós acabamos por ficar tal e qual as nossas mães. Pois eu já dei por mim a repetir estas palavras: "Mãe, sempre a chamar pela mãe! É tudo a mãe! Chamem o pai de vez em quando!" E um dia, quando a minha filha for mãe, embora ela afirme peremptoriamente que não, há de ser igualzinha à mãe dela.
Só para dizer que, após mais de um mês de ócio dos adolescentes cá de casa, passei-me!
Desde o início das férias escolares, os dias deles têm sido passados entre programas com os amigos, muito telemóvel (redes sociais), tv, jogos de computador, principalmente jogos de computador . Basicamente tem sido isto. Uns vegetais, portanto! Couch potatoes!
Pois hoje, pela enésima vez a chegar a casa depois de um dia de trabalho (um dia de trabalho difícil de julho, porque as merecidas férias tardam em chegar e o stress acumulado já é mais que muito), e encontrar pela enésima vez a casa de pernas para o ar, passei-me!
Grito de socorro: greve às habituais tarefas de mãe e dona de casa de final de dia, não sem antes deixar bem vincado o meu desagrado. Deitei-me a descansar, com a condição de que haveria jantar se todos fossem ajudar a fazê-lo, o M. inclusive.
Resultado: todos ajudaram qualquer coisita e houve jantar. A bem dizer, eu é que fiz quase tudo, mas pelo menos tiveram que estar por ali a olhar para mim! Toma!
Tenho que fazer isto mais vezes. Talvez a culpa seja minha. Como a grande maioria das mães, vou fazendo tudo e acabo por prejudicar o desenvolvimento da responsabilidade, autonomia e iniciativa dos meus filhos. E estou realmente preocupada com isto...
Tenho tantas dúvidas sobre as minhas competências maternais! A adolescência dos meus filhos põe-me à prova a toda a hora. A qualquer momento, o que parece ser um momento familiar perfeitamente descontraído, descamba numa briga, em tons alterados e acusações mútuas.
Eu sei que faz parte da adolescência contestar tudo o que vem dos pais, dar respostas tortas, contrariar, pôr à prova a autoridade, esconder, mentir. E também sei que a minha tendência para criar imagens de situações ideais e exigir depois a sua concretização, não ajuda nada. Idealizo tudo demais e depois só tenho é deceções atrás de deceções. Assim como não ajuda a minha ansiedade e falta de paciência para lidar com as situações. Não consigo contar até dez! Disparo logo.
Que chatice! Amo tanto os meus filhos e, no entanto, às vezes, numa dessas crises familiares, pareceria a um observador externo que nos odiamos. Nos últimos tempos é raro o dia em que não surge um conflito do nada. Seja uma resposta mal dada, seja uma ordem repetida dez vezes e nunca cumprida, seja um teste para o qual não se quer estudar, qualquer coisa despoleta uma briga. Que raio! Os meus pais nunca tiveram que me lembrar da responsabilidade de estudar!
Enfim, às vezes sinto que os meus filhos me vêem como uma bruxa má. Nada parecido com o que idealizei para a minha experiência da maternidade... Ingénua, apesar de ter noção da grande responsabilidade que é, pensava que educar seria muito mais fácil do que tem na realidade sido, principalmente nestes últimos anos. Mas eu sinto que, mesmo assim, estou no caminho certo e, por muitos atritos que haja, devo insistir sempre no cumprimento de regras, horários, etc. Ser uma boa mãe, às vezes, é também ser uma mãe má. Não será assim?
O certo é que, apesar de tudo, tenho uns bons filhos. Têm os seus feitios difíceis, é verdade! Mas também ninguém sai às pedras da calçada, não é? No fundo, têm uma boa índole, são bons alunos, respeitam os outros e dão-se muito bem um com o outro, o que era algo importante para mim, que cresci com muitas brigas com a minha irmã (que adoro e hoje damo-nos muito bem!) porque os meus pais não souberam perceber e evitar os meus ciúmes excessivos de irmã mais velha.
Voltando aos meus filhos, acho que consegui incutir-lhes valores importantes, daqueles que eu gosto de dizer que são um legado familiar ancestral que tem que continuar a passar de geração em geração. Valores dos meus avós, tios, pais. Honestidade, humildade, verticalidade, correção, inteligência, educação sempre foram valores e qualidades que, na minha família, são uma bandeira. E não é só ter essas qualidades pessoais, é também ter vaidade nelas e acenar essa bandeira aos quatro ventos. E isso para mim chega a ser uma obsessão, admito. A juntar a isto, um bocadinho de esperteza e inteligência emocional para lidar com as situações, assim como perspicácia, também seria bom. Aos meus filhos falta-lhes ainda um bocado disso, para além da responsabilidade. Mas enfim, só têm 13 e 15 anos!
Ainda não mencionei que estou com mais disponibilidade para refletir sobre estas coisas porque este fim-de-semana e a próxima semana, ora um, ora outro, vão viajar. Ela já foi, hoje de manhã bem cedo, com uma família amiga e outras amiguinhas e volta segunda-feira. Ele vai em visita de estudo para Espanha toda a próxima semana. Chega ela, sai ele. Durante 7 dias só terei um filho ao pé de mim de cada vez. Já me está a fazer confusão... Eles dão-me cabo da cabeça, mas não sei viver sem eles. Meus ricos filhos!
Na escola, apesar de nenhum deles gostar de estudar (quem é que gosta?), vai tudo bem. Ainda não sei é se algum conseguirá integrar o Quadro de Excelência e estou cheia de pena que isso não aconteça. Uma mãe fica orgulhosa, desculpem lá! Por falar em escola, o meu mais novo iniciou o ano menos bem a matemática e olhem só a nota que trouxe para casa ontem! Tem vindo sempre a subir! Qual é a mãe que não gosta?
Bem, vou tentar aproveitar estes próximos dias, que se prevêem de início do tempo bom e que antecedem também o Dia da Mãe, para gerir melhor a relação mãe-filho(s) e "usufruir" melhor de cada um deles... sempre com muitas saudades do outro, claro.
Tem filhos na escola? Então está na hora de um último esforço para apresentar bons resultados na Páscoa.
Esta é uma semana grande em termos de estudo, pelo menos para os estudantes cá de casa. Têm “carradas” de testes esta semana, coitados.
Falemos então sobre estudar, esse castigo tão grande que os adultos inventaram para aplicar às criancinhas.
Hoje o caçula estuda História! Yay!!!
A minha experiência.
Sempre fui uma boa aluna, muito metódica e organizada no estudo, principalmente a partir do 10º ano. Percebi desde cedo que estudar, tirar um curso, era a única garantia de ter um emprego que me proporcionasse uma vida minimamente desafogada no futuro, menos dura que a dos meus pais. Como obtinha bons resultados, fui sempre estabelecendo objetivos mais ambiciosos e fui também sendo cada vez mais exigente comigo própria, não me permitindo baixar o nível. A partir do 10º ano fui quase sempre (ou sempre, já não me lembro bem) a melhor aluna da turma e não concebia uma realidade diferente desta. Ainda hoje sou competitiva ou, como eu gosto de dizer, briosa no que faço. Não me contento com pouco, não gosto de mediocridade. Parece-me certo que quando se é o melhor em alguma coisa, aprende-se a viver com isso e é difícil afastarmo-nos desse patamar. A gente habitua-se, digamos!
Os bons resultados que obtinha levantavam-me a auto-estima, a mim, que durante a infância fui uma criança gordinha, complexada e introvertida com pouco amor-próprio. A escola ajudou-me a provar que sempre havia algo em que era melhor do que os outros! Por outro lado, os tempos também eram outros e o facto de ter crescido a ver os meus pais contarem o dinheiro no final do mês para assegurar os bens básicos para a subsistência da família também teve peso nesta equação. Não havia nada adquirido na nossa casa que fosse supérfluo, tudo era racionado. Não havia dinheiro para luxos, só para o essencial. Crescer com esta realidade marca a vida e a personalidade de qualquer um, de uma forma bem profunda. Esta é uma “alavanca” que falta hoje aos meus filhos, habituados a crescer com tudo, embora eu não me canse de lhes lembrar da minha história de vida e dos seus antepassados.
Desde cedo senti esta necessidade de ser bem-sucedida na escola. Era algo intrínseco, que vinha de dentro de mim. Costumo dizer aos meus filhos que os meus pais nunca, nem uma única vez, tiveram que me mandar estudar ou foram chamados à escola por um qualquer meu passo mal dado. Não, isso comigo não existia. Por isso é que me custa tanto lidar com a falta de motivação, empenho e ambição dos meus filhos. Não é que eles sejam maus alunos, não! São bons alunos e até quadros de excelência: ela tem integrado o quadro de excelência da escola todos os anos sem exceção; ele só foi um ano porque é mais preguiçoso e desconcentrado, mas tem andado lá perto. Estão no 8º e 9º anos e tem sido uma luta constante, principalmente minha, para eles ganharem método de estudo e aprenderem a definir objetivos e a organizar o tempo de estudo. Finalmente agora penso que já começo a ver alguns frutos dessa luta. Já vão percebendo que há dias em que têm mesmo que estudar (normalmente só na véspera dos testes, mas enfim…).
Como educar os filhos para o estudo.
Para quem, como eu, tem filhos em idade escolar, em primeiro lugar é necessário insistir com eles para desenvolverem mecanismos de organização do tempo de estudo. Neste âmbito é muito importante que eles, em primeiro lugar, queiram ter sucesso e definam objetivos e que, em concordância com isso, sejam realistas e honestos com eles mesmos. Só a título de exemplo, se há coisa que o meu mais novo gosta de fazer é convencer-se a si próprio de que o esforço investido no estudo para um determinado teste já é o suficiente, quando na maior parte dos casos, não é. O excesso de confiança e o apelo de outras atrações (jogos de computador, playstation, etc) funcionam aqui como inimigos do sucesso escolar. Cabe a nós pais nunca desistir de insistir neste campo.
Quanto a dicas para um estudo eficaz, apesar de não haver receitas, há um método que eu ensino os meus filhos a usar porque eu sempre estudei assim e resultou comigo. Basicamente, devem estudar de acordo com os seguintes passos e cumprindo as seguintes regras:
1 – Estar atentos nas aulas: quanto mais conteúdos forem assimilados na aula, mais facilitado estará o estudo em casa.
2 – Ter em casa um local fixo, calmo, sem distracções, para estudar.
3 – Situar-se na matéria que é preciso estudar, lê-la (páginas do livro e/ou fichas) com atenção e compreendê-la, sublinhando os conceitos e as partes importantes. Não cair no erro de sublinhar tudo. Para isso é preciso desenvolver a técnica de identificar o mais importante, e isso só com treino.
4 – Fazer apontamentos das partes importantes, em forma de texto-resumo ou esquemas, mas atenção, só depois de compreender bem a matéria. Compreendendo a matéria, não se corre o risco de identificar mal o que é importante. Escusado será dizer que escrever ajuda a memorizar os conteúdos.
5 – Dizer em voz alta a matéria, sem olhar para os apontamentos, para verificar da apreensão/memorização da mesma. Também podem ser feitas perguntas por um adulto. Os miúdos costumam gostar desse método.
6 – Não cumprir os passos anteriores só na véspera dos testes, porque dessa forma quase de certeza o estudo não ficará bem feito.
Tudo isto são pistas para nós, pais, ajudarmos os nossos filhos a organizar o estudo. Mas o mais importante para ter bons resultados escolares é que essa decisão parta deles. Eles têm que querer e para isso também nos compete a nós, pais, ensinar-lhes desde cedo a importância da escola, do estudo e da aprendizagem como forma de valorização pessoal.
Há acontecimentos e vivências da nossa infância que escolhemos esquecer e apagamos da memória (ou gostaríamos que isso acontecesse), e esses são importantes e estão na base da construção daquilo que é a nossa essência. Há também aquelas vivências que permanecem connosco durante toda a vida, e essas estão igualmente na fundação do nosso ser. Umas e outras, matizadas pelas pessoas que lhes conferiram matéria, são, para o bem e para o mal, os alicerces da nossa existência.
Há lembranças que mantemos ao longo da vida por vezes sem sabermos, uma vez que ficam adormecidas no mais recôndito do nosso ser durante muito tempo. Mas, a certa altura da nossa história, sem aviso, há um acontecimento, uma frase, um click que nos transporta novamente para lembranças que julgávamos esquecidas.
Curiosamente, hoje em dia a fruta não é um elemento suficientemente presente na minha alimentação (algo que tenho que tentar mudar, eu sei!). No entanto, algumas das memórias da infância que guardo com mais carinho envolvem, imagine-se, fruta. Figos, cerejas, maçãs, uvas, marmelos são alguns dos elementos que me remetem aos meus primeiros anos de vida. Importa dizer que relevantes foram também as árvores que produziam esses frutos, mas nenhuma subsiste hoje. Sucumbiram há muito à idade e às investidas do betão.
Nasci e cresci numa vila minhota, linda como só as terras e paisagens do Minho são… pelo menos para mim. Cresci livre, com poucos brinquedos mas com muita imaginação e criatividade, em comunhão com a natureza, de uma forma que os miúdos de hoje não vivenciam. De uma forma que os meus filhos pouco vivenciaram… Tinha que inventar as minhas próprias brincadeiras e encontrar os “brinquedos” que me faltavam no ambiente que me rodeava.
Uma das minhas brincadeiras preferidas era subir às árvores. Comigo lá, elas transformavam-se em casas, e os ramos eram as escadas e as mobílias, e as folhas eram muitas vezes o dinheiro que eu não tinha. Era lindo o mundo visto de cima das minhas árvores.
As primeiras árvores de que me lembro e que marcaram a minha infância encontravam-se ambas no quintal dos meus avós paternos, com quem eu passei muitas horas dos meus dias antes de frequentar a escola, enquanto o meu pai trabalhava e a minha mãe se ocupava das lides domésticas e das hortas.
Uma delas era uma macieira velhinha, pequena e carcomida (a esta eu não podia subir!) que dava umas maçãs pequeninas que eu adorava comer mesmo verdes, enquanto a minha mãe dizia invariavelmente que me iriam fazer mal à barriga.
A outra era uma figueira frondosa, mas também muito velha e com ramos pesados, que a certa altura dobraram e partiram a árvore ao meio. Uns anos depois da macieira, acabou esta também por perecer, ainda durante a minha juventude. A esta figueira eu subi inúmeras vezes, comi centenas dos seus figos e pendurei-me dezenas de vezes nos seus galhos robustos e dobrados pelo peso e pela idade. Hoje em dia, sempre que vejo uma figueira, lembro-me desta, a minha figueira. Lembro-me muito bem de um episódio que se passou junto dela, apesar de ser bem pequena quando aconteceu. Houve uma fase em que eu tive a mania de revirar os olhos. Fazia isso deliberadamente, ficando a parecer estrábica. Achava piada, vá-se lá entender!? Nesse dia, estando a apanhar figos com o meu pai e tendo ele avisado para eu não fazer aquilo aos olhos, numa atitude irreverente e ao mesmo tempo ingénua pensei ter escondido a cara da sua vista e persisti em revirar os olhos. Mas ele viu e deu-me logo ali um corretivo, não tanto por ter revirado os olhos, mas mais por lhe ter desobedecido. Nem tive tempo de antecipar a merecida bofetada a estalar na minha cara. Acho que nunca mais revirei os olhos… Este é um episódio que, pelo seu simbolismo e significado, me marcou e nunca me abandonou… Eu própria hoje tenho dificuldade em conceber que os meus filhos não aceitem um conselho ou uma ordem minha cujo objetivo seja protegê-los.
Havia também uma cerejeira altíssima, como era usual encontrar no norte, num quintal separado da casa dos meus avós por um caminho estreito e onde cultivavam batatas, favas, ervilhas, feijão verde e outros legumes . No norte permitia-se às arvores crescer em direção ao céu, encontrando-se assim muitas árvores exageradamente grandes, o que dificultava a apanha da fruta. A esta, por ser tão alta, raramente se colhiam as suas saborosas cerejas, que eu adoro. Era sempre o meu pai que subia à cerejeira com a ajuda de uma escada comprida e, como o fazia com pouca frequência, esse momento era especial, vivido com alegria, em que toda a família aguardava cá em baixo ansiosa para degustar as benditas cerejas. Comia-as com satisfação (ainda hoje é um dos meus frutos preferidos), mas com elas eu também brincava fazendo brincos de princesa, sempre que encontrava raminhos bifurcados com duas.
Os marmeleiros! Estas foram as árvores que mais vezes me hospedaram, mesmo pela adolescência fora. Eram dois ou três, num quintal onde hoje há um prédio e que a minha mãe cuidava e onde plantava os legumes para o nosso consumo próprio e alguns, poucos, para vender na praça à quinta-feira e ao sábado de manhã. Era para lá para cima que eu me esgueirava na esperança vã de que a minha mãe se esquecesse de me chamar para ajudar na horta. Foi lá em cima que eu li incontáveis livros. Eu sempre gostei de ler. Devagar, sem pressas, quase sempre com pena de chegar ao fim por não ter nenhum que ocupasse a seguir o lugar do anterior. Ainda hoje leio devagar e fazem-me confusão as pessoas que abocanham os livros e os devoram. Eu cá saboreava-os, mastigava-os, viajava através deles, sonhava. Muitas vezes, fiz tudo isto acomodada num marmeleiro. Havia um deles que tinha ramos mais confortáveis, ainda me lembro. Quanto aos marmelos, gostava e gosto de os comer crus, do seu sabor agre e da sua aspereza, mas também da marmelada e geleia que a minha mãe fazia e que hoje eu e a minha irmã também fazemos. É engraçado que ambas, como a minha mãe, guardamos um stock imenso destes doces, que acabam por atravessar todo o ciclo de vida anual dos marmelos. Quando, pelo outono, amadurecem os marmelos, ainda nós conservamos marmelada do ano anterior. A geleia não é tanto o meu forte, mas a minha irmã dominou a técnica da minha mãe na perfeição.
Das vinhas não tenho recordações muito boas, assim como das oliveiras, confesso. Fui desde cedo obrigada a ajudar nos trabalhos domésticos e do campo, e bem assim também nas vindimas e na apanha da azeitona. Tanto eu como a minha irmã, que foi sempre também, aliás, a minha companheira de “trabalho” e de brincadeiras. O que eu odiava a vindima! As vinhas altas do Minho, em latadas, obrigavam (e obrigam) a um esforço físico muito maior, a subir e descer escadotes milhentas vezes, a olhar para cima até ganhar dores no pescoço e tonturas. Foi numa vindima, com os meus 14 anos ou menos, que devido a mal-estar menstrual, um dia, inesperadamente perdi os sentidos e caí estatelada no chão. Se bem me lembro, esta foi uma das duas únicas vezes em que desmaiei, em toda a vida. A outra foi também na adolescência, sentada à mesa numa refeição, a (não) comer – consequência de uma dieta drástica e irracional.
Bem, por hoje chega de regresso ao passado. Na realidade, considero que carrego demasiado passado no meu presente…
(Só mesmo eu para falar de árvores e frutos, quando recordo a infância. Mas que foram importantes para mim, foram! Tão importantes que quero que a sua memória perdure para além de mim… que um dia os meus filhos leiam estas memórias aos seus próprios filhos…)
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