Será que coloco demasiado de mim?
Hoje levanto aqui uma questão que ecoa na minha cabeça enquanto membro desta comunidade. Nas alturas em que penso em algo para abordar aqui no blog, invariavelmente equaciono se devo ou não devo fazê-lo. Tudo é sufragado pela minha consciência. É a velha questão da autocensura...
Não é que seja meu apanágio fazer textos de estilo demasiado lamechas emotivo e intimista, salvo raras exceções. No entanto, tudo o que transmito aqui pela escrita, ou mesmo nas entrelinhas (haja quem saiba ler o que não está escrito, e já aconteceu haver) vem do mais profundo do meu ser. Não finjo ser o que não sou. Não passo uma imagem diferente daquilo que sou. Vocês talvez me conheçam melhor do que algumas pessoas (apenas) fisicamente próximas. Só não me conhecem a cara. E isso talvez seja o menos importante, na realidade.
Mesmo assim, qual é a quantidade qb de nós próprios que podemos ou devemos imprimir aos nossos escritos para serem lidos por todos quantos tenham interesse neles? Nunca vos aconteceu pensar em algo para relatar mas recuar porque, ponderando bem o assunto, acham que é pessoal demais para partilhar com "desconhecidos"? Não me levem a mal mas, salvo raras exceções, e apesar da simpatia que possamos nutrir uns pelos outros, é o que acabamos por ser quase todos, uns dos outros - meros desconhecidos. Podemo-nos cruzar na rua, podemo-nos sentar ao lado no cinema, podemos até frequentar a mesma cabeleireira e não fazemos a mais pequena ideia da nossa "relação" na blogosfera. O que se chama a isso?
Até onde é razoável ir? Nós não somos uma ilha e tudo o que mostramos de nós aqui (e quem diz aqui, diz nas redes sociais em geral) arrasta necessariamente consigo outras pessoas que fazem parte das nossas vidas. Eu pergunto: é a atitude mais acertada colocarmos a nossa vida e a dos nossos nas mãos de quem não conhecemos? Partilhar momentos da vida, sentimentos, estados de alma, tudo o que temos de mais precioso? É que eu tenho uma confissão a fazer: cada vez que dou mais um bocado de mim, sinto algo que só consigo descrever como uma angústia inexplicável, como se perdesse mais uma pequenina parte de mim. Estranho, eu sei...
Gostava, acima de tudo, de perceber se cada um de vocês sente o mesmo, se há algum tipo de empatia com o que estou a partilhar ou se se estão a marimbar para estas questões. Não se inibam de me chamar doida varrida dona de um discurso sem sentido. Ou então sejam brandos comigo. Pensem antes em mim como aquela a quem a mãe faleceu neste dia, há um ano, e logo tudo faz muito mais sentido.
(Foto: própria, recordando a minha mãe)