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M(ã)emórias da Maria Mocha

Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.

M(ã)emórias da Maria Mocha

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As mulheres do Norte deviam mandar neste país!

 

Não sou eu que digo! É o MEC!

 

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança.

Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens.

Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer.

        Miguel Esteves Cardoso

 

         (Fonte: http://minhoemfesta.pt/) 

 

 

 

Saudade, saudade... dessa 'nha terra...

Hoje venho carpir as minhas mágoas. Tenho saudades de ir ao Minho. Sinto falta. Não vamos lá desde a Páscoa. Com filhos em idade escolar é difícil encontrar um fim-de-semana prolongado, sem testes, para podermos ir lá acima. Ainda para mais, no final do ano letivo... É assim... 

 

Ainda fiquei mais desacorçoada quando recebi boas novas sobre a produção frutícola da nossa quintinha. A senhora que me faz alguma manutenção do jardim e limpezas esporádicas à casa foi lá e colheu os frutos da época que lá temos: nêsperas e cerejas, dois dos meus frutos preferidos. Biológicos! E a querida enviou-me fotos. Vejam só esta maravilha:

 

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Só tenho é pena de não poder colher eu própria os frutos. E degustá-los também, já agora. Mas já fico feliz por não se estragarem nas árvores. Ai que pena! Ai que saudades! 

 

 

 

Balanço do fim-de-semana de Páscoa

Apesar de curto, deu para descansar...

 

... e também para cometer alguns excessos à mesa. Mas caramba! Festa é festa! Na mesa da Páscoa não podiam faltar as amêndoas de chocolate, os ovos de chocolate para os miúdos comerem no fim de uma divertida caça ao tesouro engendrada pela minha filha (eu fazia-lhes isso em pequenos, pistas com enigmas e mensagens codificadas e ela apanhou-lhe o jeito), bolo com ninho de fios de ovos, e outras iguarias como uma torta de bacalhau e camarão deliciosa cuja receita experimentei pela primeira vez. Apesar de tudo, felizmente, pouco comi de todas estas delícias, já que o dia de Páscoa não foi passado na minha casa e os restos ficaram para lá, longe das minhas vistas. Melhor assim. 

 

... e também para pacificar um pouco a "adolescentite aguda" cá de casa e dar tréguas ao natural conflito de gerações que tem estado ao rubro de há uns meses anos a esta parte. Nunca mais acaba isto???

 

... e também para poder mais uma vez constatar uma máxima que considero das mais acertadas no que diz respeito à natureza humana: as pessoas não vêem a realidade como ela é, mas sim como elas (pessoas) são. Essa é que é essa! Felizmente atingi uma determinada etapa na vida e um patamar de maturidade que me permite dizer que me estou positivamente cagando para isso. 

 

De resto, foram uns curtos dias em paz e sossego. Que passaram a correr. Que não chegaram para usufruir em pleno da quietude do lugar que me viu nascer. 

 

Deixo-vos com um apontamento desta árvore do meu quintal, em flôr, como convém na Primavera. Alguém por aí tem conhecimentos de ruralidade, ou é tudo gente mais citadina? Que árvore é esta, hã? 

 

 

PS: Percebem agora porque é que desapareci daqui uns dias? Estive tão bucólica como o meu paraíso na terra. Estava capaz de ganhar raízes... Presumo que esteja perdoada... 

 

 

Em casa, em tons de cinzento!

Hoje umas confissões e, ao mesmo tempo, um pedido. Pode ser? Sim? Sim?... Não? (Lá vem esta com as neuras dela e logo à segunda-feira! Só nos faltava isto agora...) Então está bem, eu conto-vos tudo. 

 

Depositei muitas expetativas nestes dias cá em cima. Agora que cá estou, ainda sinto mais profundamente essa vontade de que esta curta estada valha muito a pena. Estou mesmo assoberbada com essa ideia. É por isso que hoje não me apetece cumprir a rubrica habitual de segunda-feira. Peço desculpa, mas hoje só me apetece "gritar" que finalmente estou longe da rotina e de alguns, só alguns, dos problemas que me têm vindo a sugar todas as energias. Serão só dois dias, mas é melhor que nada. 

 

Se não conseguir vir aqui com regularidade, hoje e amanhã, é porque estou a tentar recuperar alguma sanidade mental e a alegria que me têm vindo progressivamente a abandonar nos últimos tempos. Tenho andado insuportável, vocês é que não sabem. Não tem sido fácil conviver comigo ultimamente. Nem eu já me aguento... Também é certo que a vida não me tem facilitado nada! Enfim...

 

Entao, já sabem. Hoje e amanhã estarei obsessivamente a respirar estes ares do norte, a absorver estes cheiros (os que a rinite me permitir, essa p#¥@ que, juntamente com a sua parceira asma, me persegue para todo o lado e até me retira o olfato). Estarei a tentar recarregar baterias para voltar a ser a pessoa combativa e resiliente que sempre fui, naturalmente, sem forçar, como começa a acontecer

 

O Minho recebeu-me molhado e em tons de cinzento  (grey, estão a ver?). Pronto, assim fica o apontamento, muito bem conseguido (cof cof cof), sobre o tema que era devido, ainda que a minha intenção fosse literal, como se pode ver na foto. Faz de conta que estamos perante uma mensagem subliminar. Só que não estamos, a sério que não estamos. É mesmo chuva, também ela a lembrar que estou no Minho. Pode ser que seja isso que falta para lavar as más ondas e vibrações da minha vida. 

 

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Jardinagem e igualgade de género.

A nossa casa cá no norte situa-se na aldeia (Como eu gosto! Como nós gostamos!), mas a uns escassos cerca de 4 ou 5km do centro da sede de concelho, com boas vias de acesso, servida por autoestrada, e perto da povoação mas longe o suficiente dela para descansar e fazer "férias verdes". 

 

Temos alguns vizinhos simpáticos e solícitos. Ora nos oferecem produtos da horta, ora nos dão mudas de flores e árvores para o nosso jardim/quintal, ora me ajudam elas próprias (as mulheres, claro!) a cortar a relva, ora puxam conversa quando eu ando nas minhas jardinagens (o que me força a abrandar o ritmo dos trabalhos e nem sempre é bem vindo! 😂 ), ora competem para ver qual deles o mais amigável, qual ganharia o prémio de melhor vizinho. É engraçado: estes meus vizinhos mais próximos, dois casais (um pela nossa idade e outro um pouco mais velho) são ótimos para nós, muito cordiais e respeitadores para connosco, mas não se falam entre si (Questões de bens e heranças, o que haveria de ser?). Já pensei que talvez seja por estarem zangados que compitam pela nossa amizade... Cada um tem que causar melhor impressão que o outro aos novos e intermitentes vizinhos! Sorte a nossa! 😂 

 

Bem, hoje o vizinho mais velho trouxe-me um malmequer num vaso para eu colocar no jardim. Às vezes "impõe-me" espécies que eu dispensaria, mas este não era o caso.

 

Tenho andado a jardinar, claro. Cada vez que cá vimos, as ervas daninhas teimam em dominar o espaço em que decidi colocar relva. Parece que nunca mais consigo ver um tapete uniforme de relva como imaginei... Mas não desisto e ainda vou vencer esta luta contra as ervas! 

 

Só eu cá em casa é que aprecio os benefícios que a jardinagem provoca no estado de espírito. Faz milagres! Além disso, mesmo em férias não me vejo todo o dia sem fazer nada. Tenho que ter objetivos. Como dizia alguém: "gosto de olhar para trás e ver trabalho feito". A jardinagem dá-me isso. Hoje em dia, apesar das malditas e persistentes ervas que teimam em despontar e desenvolver-se mais rapidamente do que aquilo que eu gostava que crescesse, já posso olhar para o jardim e ver que fui eu que o concebi e que está ali trabalho meu. É um jardim/quintal simples, rústico como eu gosto, despretensioso, rural, com flores da minha infância - os malmequeres, as hortênsias, os agapantos, as sardinheiras. Nada de exótico, tudo típico. Acho que o meu amadorismo em arquitetura paisagística tem sido compensado pelo amor e dedicação que aplico no trabalho que desenvolvo. E acho que até não está nada mal. Quem o viu em quem o vê! Deixo aqui um apontamento. 

 

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Como já disse, o jardim/quintal é um exclusivo meu. Cá em casa, ninguém para além de mim gosta da jardinagem (pensando bem, nem de cozinhar, nem de limpar o pó, nem de nenhuma outra tarefa doméstica! 😕 Enfim...). Eu gosto e isso para mim é o bastante! Não me faz confusão que não valorizem e não participem desse  trabalho. No entanto, hoje a minha filha disse-me algo que me deixou a pensar. Ela é muito feminista e reivindicativa da igualdade de género,  já tinha falado nisso aqui. "Não tens vergonha de estar aqui a trabalhar e o pai estar lá dentro deitado a ouvir música?" Fala o roto ao nu! 😛 Haaa??? Acho que não! Eu gosto disto, ele não! Deveria ter vergonha?

 

A verdade é que não adiantaria nada tentar contrariar este cenário, o meu cenário. A minha filha ainda é muito nova e pensa que pode mudar as pessoas e o mundo. Quanto a mim, já consegui mudar algumas coisas. Em relação a outras, desisti. Esta é uma delas. É que há aspetos em nós que também ninguém consegue mudar... Às vezes é preciso aceitar. 

 

 

 

Páscoa 2016

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A Páscoa foi no norte, como sempre. Desta vez coincidiu com o aniversário da adolescente cá de casa. Por essa razão, conforme previsto, lá levámos as amigas mais próximas dela connosco. Foram 3 dias divertidos para ela e de muito trabalho para mim. Significou cozinhar para carradas de adolescentes, limpar o lixo que faziam, andar por casa a pisar ovos enquanto elas dormiam, levá-los e trazê-los para todo o lado, em várias viagens, assim como fazer uma viagem de combóio de volta (o carro só tem 5 lugares e nós, nestes últimos dias, tivemos a nosso cargo 6 adolescentes e uma criança!). E ainda me custou um telemóvel partido! No final o balanço é que gastámos uma “nota preta”, mas valeu a pena. Foi uma bela prenda de anos para a minha filha. Além disso, pude conviver com ela e as amigas e perceber melhor algumas coisas, nomeadamente que elas têm uma relação de irmãs e ainda bem, porque são boas miúdas. Percebi também que as amigas têm melhor feitio do que a minha filha, mas isso é uma história para outra altura.

Apesar de tudo, ainda consegui fazer um bocado de jardinagem, numa manhã em que não choveu, e enquanto todos dormiam. Valeu-me uma dor nas costas que me acompanha até hoje. Essa e também a dor nas pernas, da caminhada que fizemos uma tarde com os 7, monte acima e monte abaixo. Uma “aventura”, como chamo desde que os meus filhos são pequenos. Sempre fomos à aventura. Foi um conceito criado por mim e que não é mais do que desbravar caminhos e montes com a criançada (filhos e sobrinhos). Acho que são daquelas memórias que ficam para toda a vida.

Hoje já fiz o bolinho semanal da praxe. É muito simples e partilho já, muito rapidamente.

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Batem-se 6 ovos inteiros com 200 g de açúcar até formar um creme fofo e esbranquiçado.

Junta-se depois, a envolver, 200 g de farinha com fermento.

Vai ao forno numa forma redonda sem buraco, untada e polvilhada com farinha, durante cerca de meia hora.

Retira-se e deixa-se arrefecer. Corta-se em 3 partes iguais, que depois serão sobrepostas novamente. Antes de cada sobreposição, rega-se cada parte com calda de açúcar (2 dl de água com 100 g de açúcar, que vai ao lume ferver durante 5 minutos) e recheia-se com doce. Usei doce de morango, mas pode ser outro qualquer. A cobertura que usei é de chocolate (1 tablete com 2 dl de natas, que vai ao lume para derreter o chocolate). Acho que ficaria ainda melhor com chantilly. Para a próxima é o que uso.

 

Hoje é 1 de abril! Aproveito para deixar os meus desejos para este mês (créditos na imagem), se possível com menos chuva… ou nenhuma! Quero sol e calor de uma vez por todas! Pode ser que abril contrarie o ditado e traga isso…

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Motivação para o dia!

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Mas importa! O facto é que importa!!!

Hoje só mesmo repetindo esta frase a cada meia hora é que sobrevivo a um sábado chuvoso e feio como este. Um sábado de um fim-de-semana que carregava tanta expetativa e ansiedade. Eu que tinha tantos planos para aproveitar bem esta curta estada no norte e este descanso.

A minha jardinagem vai ser adiada outra vez??? E as amigas da minha filha que vêm cá no dia dos anos dela? Que pena que está de chuva! Parece sina! Desde o verão que sempre que cá venho, está a chover... Gosto tanto mais dos dias de sol... 

 

Árvores e frutos da minha infância

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Há acontecimentos e vivências da nossa infância que escolhemos esquecer e apagamos da memória (ou gostaríamos que isso acontecesse), e esses são importantes e estão na base da construção daquilo que é a nossa essência. Há também aquelas vivências que permanecem connosco durante toda a vida, e essas estão igualmente na fundação do nosso ser. Umas e outras, matizadas pelas pessoas que lhes conferiram matéria, são, para o bem e para o mal, os alicerces da nossa existência.

Há lembranças que mantemos ao longo da vida por vezes sem sabermos, uma vez que ficam adormecidas no mais recôndito do nosso ser durante muito tempo. Mas, a certa altura da nossa história, sem aviso, há um acontecimento, uma frase, um click que nos transporta novamente para lembranças que julgávamos esquecidas.

Curiosamente, hoje em dia a fruta não é um elemento suficientemente presente na minha alimentação (algo que tenho que tentar mudar, eu sei!). No entanto, algumas das memórias da infância que guardo com mais carinho envolvem, imagine-se, fruta. Figos, cerejas, maçãs, uvas, marmelos são alguns dos elementos que me remetem aos meus primeiros anos de vida. Importa dizer que relevantes foram também as árvores que produziam esses frutos, mas nenhuma subsiste hoje. Sucumbiram há muito à idade e às investidas do betão.

Nasci e cresci numa vila minhota, linda como só as terras e paisagens do Minho são… pelo menos para mim. Cresci livre, com poucos brinquedos mas com muita imaginação e criatividade, em comunhão com a natureza, de uma forma que os miúdos de hoje não vivenciam. De uma forma que os meus filhos pouco vivenciaram… Tinha que inventar as minhas próprias brincadeiras e encontrar os “brinquedos” que me faltavam no ambiente que me rodeava.

Uma das minhas brincadeiras preferidas era subir às árvores. Comigo lá, elas transformavam-se em casas, e os ramos eram as escadas e as mobílias, e as folhas eram muitas vezes o dinheiro que eu não tinha. Era lindo o mundo visto de cima das minhas árvores.

As primeiras árvores de que me lembro e que marcaram a minha infância encontravam-se ambas no quintal dos meus avós paternos, com quem eu passei muitas horas dos meus dias antes de frequentar a escola, enquanto o meu pai trabalhava e a minha mãe se ocupava das lides domésticas e das hortas.

Uma delas era uma macieira velhinha, pequena e carcomida (a esta eu não podia subir!) que dava umas maçãs pequeninas que eu adorava comer mesmo verdes, enquanto a minha mãe dizia invariavelmente que me iriam fazer mal à barriga.

A outra era uma figueira frondosa, mas também muito velha e com ramos pesados, que a certa altura dobraram e partiram a árvore ao meio. Uns anos depois da macieira, acabou esta também por perecer, ainda durante a minha juventude. A esta figueira eu subi inúmeras vezes, comi centenas dos seus figos e pendurei-me dezenas de vezes nos seus galhos robustos e dobrados pelo peso e pela idade. Hoje em dia, sempre que vejo uma figueira, lembro-me desta, a minha figueira. Lembro-me muito bem de um episódio que se passou junto dela, apesar de ser bem pequena quando aconteceu. Houve uma fase em que eu tive a mania de revirar os olhos. Fazia isso deliberadamente, ficando a parecer estrábica. Achava piada, vá-se lá entender!? Nesse dia, estando a apanhar figos com o meu pai e tendo ele avisado para eu não fazer aquilo aos olhos, numa atitude irreverente e ao mesmo tempo ingénua pensei ter escondido a cara da sua vista e persisti em revirar os olhos. Mas ele viu e deu-me logo ali um corretivo, não tanto por ter revirado os olhos, mas mais por lhe ter desobedecido. Nem tive tempo de antecipar a merecida bofetada a estalar na minha cara. Acho que nunca mais revirei os olhos… Este é um episódio que, pelo seu simbolismo e significado, me marcou e nunca me abandonou… Eu própria hoje tenho dificuldade em conceber que os meus filhos não aceitem um conselho ou uma ordem minha cujo objetivo seja protegê-los. 

Havia também uma cerejeira altíssima, como era usual encontrar no norte, num quintal separado da casa dos meus avós por um caminho estreito e onde cultivavam batatas, favas, ervilhas, feijão verde e outros legumes . No norte permitia-se às arvores crescer em direção ao céu, encontrando-se assim muitas árvores exageradamente grandes, o que dificultava a apanha da fruta. A esta, por ser tão alta, raramente se colhiam as suas saborosas cerejas, que eu adoro. Era sempre o meu pai que subia à cerejeira com a ajuda de uma escada comprida e, como o fazia com pouca frequência, esse momento era especial, vivido com alegria, em que toda a família aguardava cá em baixo ansiosa para degustar as benditas cerejas. Comia-as com satisfação (ainda hoje é um dos meus frutos preferidos), mas com elas eu também brincava fazendo brincos de princesa, sempre que encontrava raminhos bifurcados com duas. 

Os marmeleiros! Estas foram as árvores que mais vezes me hospedaram, mesmo pela adolescência fora. Eram dois ou três, num quintal onde hoje há um prédio e que a minha mãe cuidava e onde plantava os legumes para o nosso consumo próprio e alguns, poucos, para vender na praça à quinta-feira e ao sábado de manhã. Era para lá para cima que eu me esgueirava na esperança vã de que a minha mãe se esquecesse de me chamar para ajudar na horta. Foi lá em cima que eu li incontáveis livros. Eu sempre gostei de ler. Devagar, sem pressas, quase sempre com pena de chegar ao fim por não ter nenhum que ocupasse a seguir o lugar do anterior. Ainda hoje leio devagar e fazem-me confusão as pessoas que abocanham os livros e os devoram. Eu cá saboreava-os, mastigava-os, viajava através deles, sonhava. Muitas vezes, fiz tudo isto acomodada num marmeleiro. Havia um deles que tinha ramos mais confortáveis, ainda me lembro. Quanto aos marmelos, gostava e gosto de os comer crus, do seu sabor agre e da sua aspereza, mas também da marmelada e geleia que a minha mãe fazia e que hoje eu e a minha irmã também fazemos. É engraçado que ambas, como a minha mãe, guardamos um stock imenso destes doces, que acabam por atravessar todo o ciclo de vida anual dos marmelos. Quando, pelo outono, amadurecem os marmelos, ainda nós conservamos marmelada do ano anterior. A geleia não é tanto o meu forte, mas a minha irmã dominou a técnica da minha mãe na perfeição.  

Das vinhas não tenho recordações muito boas, assim como das oliveiras, confesso. Fui desde cedo obrigada a ajudar nos trabalhos domésticos e do campo, e bem assim também nas vindimas e na apanha da azeitona. Tanto eu como a minha irmã, que foi sempre também, aliás, a minha companheira de “trabalho” e de brincadeiras. O que eu odiava a vindima! As vinhas altas do Minho, em latadas, obrigavam (e obrigam) a um esforço físico muito maior, a subir e descer escadotes milhentas vezes, a olhar para cima até ganhar dores no pescoço e tonturas. Foi numa vindima, com os meus 14 anos ou menos, que devido a mal-estar menstrual, um dia, inesperadamente perdi os sentidos e caí estatelada no chão. Se bem me lembro, esta foi uma das duas únicas vezes em que desmaiei, em toda a vida. A outra foi também na adolescência, sentada à mesa numa refeição, a (não) comer – consequência de uma dieta drástica e irracional.

Bem, por hoje chega de regresso ao passado. Na realidade, considero que carrego demasiado passado no meu presente…

(Só mesmo eu para falar de árvores e frutos, quando recordo a infância. Mas que foram importantes para mim, foram! Tão importantes que quero que a sua memória perdure para além de mim… que um dia os meus filhos leiam estas memórias aos seus próprios filhos…)

No norte...

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Hoje o M., por motivos profissionais, teve que vir ao norte. Como temos cá casa, desta vez convidou-me a acompanhá-lo. E cá estou eu a matar saudades. “Ganda” maluca! Tirei um dia no trabalho, coisa rara!

 

Viemos ontem ao final do dia, encontrámos tudo em ordem, dormimos na nossa casinha e hoje, aproveitando que não chove (finalmente!) já fiz os trabalhos de jardinagem que eu tanto gosto. Podei as hortênsias. Uma poda leve, que elas já estão a despontar. Vamos ver se este ano florescem como deve ser… Mas há ainda tanto para fazer! Enfim… Ainda apanhei tangerinas, limões e salsa para levar para baixo.

 

Adoro isto e, no entanto, usufruo tão pouco…

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Maria Mocha é o pseudónimo de uma mulher que, de vez em quando, gosta de deixar os pensamentos fluir pela escrita, uma escrita despretensiosa, mas plena dos sentimentos e emoções com que enfrenta a vida. Assim, as criações intelectuais da Maria Mocha publicadas (textos, fotos) têm direitos de autor que a mesma quer ver respeitados e protegidos. Eventuais créditos de textos ou fotos de outros autores serão mencionados. Aos leitores da Maria Mocha um apelo: leiam, reflitam sobre o que leram, comentem, mas não utilizem indevidamente conteúdos deste blog sem autorização prévia da autora. Obrigada.

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