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M(ã)emórias da Maria Mocha

Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.

M(ã)emórias da Maria Mocha

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P, o baldas!

 

O P é um rapaz de 16 anos, com alguma irreverência própria da idade mas com bom coração. Só não liga à escola. Nem sequer leva os livros para casa. Ficam no cacifo durante todo o ano. Não vale a pena levá-los. Afinal, não iria estudar mesmo. Corre, por isso, o risco de chumbar, mais uma vez.

Vive com a mãe e uma irmã mais nova, com muitas dificuldades, numa habitação humilde, sem as mínimas condições, com algumas divisões em terra batida. A mãe é uma boa mãe, trabalhadora, e luta diariamente para criar aqueles dois filhos sozinha. Conta também com a ajuda de terceiros.

O P tem o pai preso. Disparou contra um homem na sequência de uma briga. Mas não teve culpa, diz o P. Vão visitá-lo ao fim-de-semana. A mãe, esposa extremosa, leva-lhe sempre dinheiro para os gastos na prisão, apesar das dificuldades em criar os filhos. 

O P sabe que precisa ajudar a mãe no orçamento familiar. Trabalha muitos finais de dia, depois da escola. E quase todos os fins-de-semana, na agricultura. Pagam-lhe 5 euros à hora. 30 euros por dia. É uma boa ajuda, diz ele. 

O P não estuda. Mas podia estudar, em cima da sua cama, diz ele. Dormir lá é que não pode, desde que o soalho do quarto abateu. Agora tem dormido no chão, no quarto da mãe, ao lado da cama onde ela dorme com a irmã mais pequenina. 

O P é um bom menino, só não liga à escola. 

 

 

Santas e bruxas

 

 

Hoje tenho uma situação para vos colocar, sobre a qual gostaria de conhecer a vossa opinião. Cá vai!

 

Imaginem uma pessoa que é uma jóia, preocupada, solícita, simpática, e tudo e tudo e tudo. Uma ótima amiga em potencial para qualquer um. Uma pessoa que se diz não ter maldade nem malícia. E de facto, só tenho razões para confirmar tudo isso. Bem... só lhe identifico um defeito. É daquelas pessoas que puxa assunto atrás de assunto e não sabe quando parar. Conversa, conversa, conversa... De tal forma que o interlocutor tem sérias dificuldades em cortar o assunto sem parecer malcriado. Parece que nos sentimos encurralados, as piores pessoas do mundo só porque já estamos com o "sistema nervoso" porque precisamos urgentemente de acabar uma tarefa que estávamos a fazer ou simplesmente fazer uma necessidade fisiológica e não conseguimos encontrar uma brecha para pôr um ponto final no assunto. E quando conseguimos, volta tudo à estaca zero porque a pessoa conseguiu rapidamente encadear outro assunto a talhe de foice.  Percebem? É horrível! 

 

Ora, essa pessoa, de acordo com a própria, está de relações cortadas com uma vizinha por culpa exclusiva da tal vizinha, que, segundo ela, é má como as cobras, assim como toda a família o é (trata-se de uma questão genética, portanto ). O que está alegadamente na base da zanga é inveja, heranças ou doações em vida de um tio,  terrenos, casas, vicissitudes do dinheiro,... What else

 

Sempre que a vizinha (a boa) inicia uma destas tais conversas intermináveis, arranja maneira de introduzir o assunto "vizinha, bruxa malvada". Sim, porque até me disse que ela rogava pragas e tudo, com um dedo da mão contorcido de uma certa maneira.  Basicamente, eu oiço! Limito-me a ouvir, atenção! Não nasci ontem. Não quero confusões com nenhuma das duas e isso é ponto assente. 

 

E eu vou ouvindo, ouvindo, ouvindo. E comecei a pensar, pensar, pensar. Há um aspeto curioso. É que a tal vizinha (a má), nas curtas conversas que teve comigo (É verdade! Essa não é o terror das almas solitárias como eu gosto de ser às vezes. Até é bastante discreta e recatada.) nunca, jamais, me falou mal da vizinha santa. Este aspeto intrigou-me. Será que é tão má, que por isso nem fala da inimiga de estimação?  Ou estamos perante aquela velha máxima de que o que as pessoas dizem dos outros diz mais sobre elas do que sobre os outros? Quem será a santa e quem será a bruxa, afinal? Estaremos perante uma inversão de papéis?

 

Questão pertinente, esta, certo? De vida ou morte, diria!  O que me dizem disto? Digam de vossa justiça, se quiserem aceitar o repto.

 

(Imagem daqui)

 

 

Há situações na vida que parecem obra de ficção!

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Garanto que não ficciono nem invento aqui nada. Tudo o que partilho são situações vivenciadas ou testemunhadas e sentimentos verdadeiramente sentidos (passo o pleonasmo). Embora possa não parecer... 

 

Falava eu ontem de ficar com o "sistema nervoso"... Mal eu sabia que durante o dia iria assistir a um ataque de nervos como nunca tinha visto num local de trabalho. Em plena reunião, uma senhora completamente descompensada protagonizou uma cena de choro e gritos completamente lamentável, exagerada e desajustada. Isto porque quem presidia a reunião não permitiu que ela se ausentasse por questões pessoais. Parecia um filme italiano. Mas não era nenhum filme. Era bem real. E o que é certo é que a queixosa com o "sistema nervoso", ainda mais nervoso que o meu, acabou por sair mesmo da reunião.  

 

Confortámos a senhora e, depois de largos minutos de choro e ombros amigos, ela acabou por se acalmar. Tive pena. Pensei que poderia ter sido eu a ter aquele surto. A única coisa que nos separa, a mim (e todas as pessoas como eu que não têm exteriorizações daquelas em público) e a ela, é sermos mais racionais, contidos, castradores das nossas emoções. Os humanos andam demasiado stressados, nervosos, infelizes.  Alguns conseguem é disfarçar melhor que outros. 

 

 

A propósito dos planos de contingência acionados para os sem-abrigo...

Não há dúvida de que é uma medida importante, é de louvar. Já que a triste realidade de haver pessoas que não têm um teto para dormir existe, há que acionar todas as ações possíveis para que seja menos penoso para aquelas pessoas sobreviver ao frio intenso que se tem feito sentir.

 

Mas deixem-me dizer que é tão triste que haja necessidade disso! É tão angustiante para mim! E imagino-me numa situação dessas e penso: foda-se, será que quem dorme na rua, só agora é que sente frio? Então e na semana passada e nos últimos meses, tem estado calor à noite, é? E só faz frio em Lisboa e no Porto? Merda Raio de organização económica a da nossa sociedade, em que uns têm tudo e outros não têm nada...

 

Que triste realidade a dos "ninguéns" privados de direitos, discriminados, excluídos, de que fala Eduardo Galeano. Uma realidade presente aqui e em todos os cantos deste mundo tão injusto e cada vez mais desumanizado. Vale a pena ver, ler e ouvir, na voz do próprio autor. E parar para pensar um bocado nisto... mesmo já tendo passado a época do Natal em que somos sempre todos tão solidários e caridosos. 

 

 

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"As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não choveu ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata."
 

Eduardo Galeano, in O Livro dos Abraços

 

 

Do presépio, da cristandade e dos refugiados...

Estamos a dois dias do Natal e eu ainda não me referi a esta época, a não ser para dizer que estou com pouco espírito natalício. Faço-o hoje.

 

E como não consigo dissociar a época do Natal da consciência que tenho de que há quem não tenha condições para passar um Natal (para não dizer uma vida) no calor de um lar confortável e feliz, dedico esta imagem e principalmente a respetiva legenda a todos aqueles que sendo crentes, são também contra (e temem como se de portadores da peste se tratassem) a vinda de refugiados do médio oriente, esses seres detestáveis, sujos e perigosos para a sociedade ocidental. 

 

Amén, irmãos! Jesus, aquele bebé que vocês colocam orgulhosamente num presépio, nas palhinhas, entre uma mãe e um pai de refugiados e que fica ali toda esta época a ostentar a vossa religiosidade e santidade,  estaria muito orgulhoso de vocês. 

 

É que é tão comum esta combinação de religiosidade e xenofobia (na mesma pessoa) acontecer! Ainda um dia destes uma pessoa conhecida, evangélica de religião, dissertava num grupo de amigos sobre os perigos que representavam os refugiados para o nosso e outros países europeus. Eu não resisti a comentar só isto: "Dizes-te cristã e esse discurso é muito pouco cristão da tua parte!" A conversa acabou ali. Dizer mais o quê? Cada vez tenho menos respeito por beatas e por pessoas de muita fé em divindades e pouco respeito pelo próximo e, em última instância, pela humanidade. Raramente aplicam essa fé nas situações concretas das suas vidas e raramente usam essa fé para o bem. 

 

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(Fonte: https://imgflip.com/)

 

 

Conversas de circunstância (ou alarvidades discursivas e outras estórias)

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Tenho dificuldade em lidar com alguns traços de personalidade de certas pessoas que vão cruzando o meu caminho: a hipocrisia, a falta de pensamento sistémico, a incapacidade para se colocar no lugar do outro, o culto da aparência, a mentira, a falta de bom senso e a subestimação da inteligência alheia, por exemplo, mexem com o meu sistema. Às vezes vêm todas num único pack, ainda por cima.

 

Já aqui falei, por alto, sobre uma característica que tenho, modéstia à parte, que é a perspicácia e sensibilidade que me permitem dissecar o que é dito pelas outras pessoas e, quando é caso disso, desferir um golpe rápido em reação a muitas das alarvidades que oiço. Sou rápida no gatilho, o que faz com que quem me conhece me descreva como tendo a resposta na ponta da língua ou sendo frontal e direta na abordagem a muitos assuntos. Nada de rodeios. O que é, é! Acho que são as minhas duas costelas minhotas. Apesar de não se poder generalizar, no norte, por norma, é-se mais genuíno, terra-a-terra, o que por vezes também quer dizer que se é mais rude, bruto, mas também mais honesto e verdadeiro. No norte não se aceita tão facilmente aquele tipo de conversa de circunstância em que as pessoas douram a pílula dizendo o que pensam ser suposto dizer e o que pensam que deve ser ouvido. Aquelas conversas que me enervam sobremaneira, em que ninguém está a ser sincero, em que me parece óbvio que toda a gente envolvida percebe isso, mas age com hipocrisia, fingimento. E tudo só para parecer bem. Tirem-me desse filme! E lá está, às vezes marco a diferença dando um “abanão à conversa” e trazendo as pessoas de volta à realidade. É mais forte que eu… Mas normalmente faço isso com inteligência, algum humor e ironia à mistura. Quando se dizem as verdades com uma gargalhada no fim, do tipo “estava só a brincar”, elas são melhor aceites. Ou seja, desarma-se o interlocutor, que normalmente percebe o objetivo da coisa e encaixa. Psicologia barata, é o que é! (Já mencionei que também já me disseram que poderia ter sido psicóloga, que tinha jeito? Pois é…)

 

Bem, ser como sou não deve ser muito mau, porque já várias pessoas que me conhecem me disseram que gostariam de ser como eu, nesta característica de não ter papas na língua. Por acaso, este é talvez o único caso em que esqueço o politicamente correto. O facto de não gostar que subestimem a minha inteligência, obriga-me variadíssimas vezes a desmascarar hipocrisias, a repor a verdade em relação ao que é dito. Muitas vezes situações de hipocrisia perfeitamente gratuita! É mais forte que eu! Sinto que essa minha característica faz as pessoas temerem a minha perspicácia, em muitas circunstâncias, o que também não é mau...

 

Mas também acontece que às vezes não vale a pena o trabalho. Recentemente foi um desses casos.

 

Situação:

Um conhecido, que por acaso até admiro por ser voluntário numa associação de solidariedade social (tem felizmente a disponibilidade permitida por uma reforma precoce por invalidez aos 40 e tal anos, apesar de ser hoje uma pessoa perfeitamente capaz) fez uma afirmação daquelas que me deixa a ferver. Disse ele que já estava cansado da sua atividade na tal associação porque, palavras dele: “Já tenho 57 anos! É muita idade!”. What the fuck?!? Então e o resto de nós, que temos que trabalhar mais vinte anos do que ele? Eu até aceito que ele esteja cansado, que eu tenho 44 anos e às vezes estou de rastos. Mas lá está, acho que de acordo com o contexto pessoal, ele deveria ter um bocadinho mais de pudor em falar daquela forma. Que indignada que fiquei! Apesar disso, contive-me e escolhi não dar um par de coices dos meus, à moda do norte…

 

Hoje, neste final de dia, enquanto preparo o jantar, deu-me para isto! Coisas minhas, que não bato lá muito bem…

 

Realmente é verdade! Não sei quem foi, mas houve alguém que disse, a meu ver com toda a propriedade: “Nós não vemos a realidade como ela é! Nós vemos a realidade como nós somos!”. Acertadíssimo! E esta máxima, obviamente, também se aplica a mim.

 

 

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Maria Mocha é o pseudónimo de uma mulher que, de vez em quando, gosta de deixar os pensamentos fluir pela escrita, uma escrita despretensiosa, mas plena dos sentimentos e emoções com que enfrenta a vida. Assim, as criações intelectuais da Maria Mocha publicadas (textos, fotos) têm direitos de autor que a mesma quer ver respeitados e protegidos. Eventuais créditos de textos ou fotos de outros autores serão mencionados. Aos leitores da Maria Mocha um apelo: leiam, reflitam sobre o que leram, comentem, mas não utilizem indevidamente conteúdos deste blog sem autorização prévia da autora. Obrigada.

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