Blogue pessoal que aborda o universo feminino, maternidade, adolescência, resiliência, luta e superação do cancro, partilha de vivências, vida familiar e profissional... e alguma reflexão com humor à mistura.
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Hoje umas breves notas, a propósito da notícia que circula nas redes sociais de que as avaliações da disciplina de Educação Física vão passar a contar para o acesso ao ensino superior. Não conheço a proposta nem os seus contornos. Por isso, deixo só uma opinião pouco amadurecida, reflexo do primeiro impacto que me causou.
Começo por dizer que é uma medida que vai ser aplicada aos meus filhos. Nesse aspeto, tudo bem, que eles são os dois bastante atléticos. Quanto a isso, estou portanto descansada.
Mas e os que não são? Vai-se cortar as pernas a alunos exemplares que poderiam ir para o curso que quisessem e chegar a ser úteis à sociedade só porque não têm destreza para o desporto? Atenção, eu acho que se deve valorizar a atividade desportiva, mas porque é que Educação Física ha de ser importante como requisito para alguém que quer ser juiz ou advogado ou médico ou engenheiro ou professor (excluindo daqui os de Educação Física, claro!)?
Não sei se concordo com a medida. Tenho até bastantes dúvidas. O que dizer sobre a aplicação desta medida a uma pessoa com deficiência ou doença que impeça o bom desempenho físico? Espero e acredito que se tenha em conta situações dessas. Senão, o que nos estão a dizer? Que um coxo, um cego, um maneta ou um paraplégico não podem ser doutores? A essas pessoas que já têm tantas dificuldades de integração, podemos em consciência dificultar-lhes ainda mais a vida? Não, deve estar certamente tudo pensado...
Se não se acautelar esse aspeto, pergunto: o que é que se pretende com isto? "Limpar" as universidades de pessoas "diferentes", na senda da raça perfeita?
Inteligência aliada a boa condição física e temos o ideal de estudante universitário! Mente sã em corpo são! Muito bem, sim senhor!
Não consigo é evitar que a minha mente faça aqui um paralelismo com aquele episódio infeliz da história mundial que todos conhecemos...
Aviso já à cabeça que não sou uma pessoa nada antiquada nem púdica! Até sou bastante "mente aberta". Eu própria já fiz muitas asneiras na vida, mas por ter uma cabeça no sítio, nunca fiz nada de que me envergonhasse muito nem que comprometesse o caminho que defini para mim. Sou assim, uma pessoa de ideias fixas bem definidas e casmurra determinada com'ó caneco. Posto isto, posso dizer ao que venho.
Hoje venho contar-vos a conversa de ontem à hora de almoço, entre colegas, no trabalho. Uma das colegas, e amiga, contava as suas peripécias do último fim-de-semana por terra de estudantes. Não, não falámos da praxe. Isso seria outra discussão que daria pano para mangas. Ela tinha ido ver os festejos da receção ao caloiro. A sua filha ingressou este ano na faculdade, e então, ela e restante família, lá foram assistir aos desfiles e essa coisa toda que acontece por esta altura e das quais eu já só tenho uma vaga memória, que já foi há tanto tempo e já se passou tanta "vida adulta" na minha vida que quase limpei isso tudo. Adiante.
Contava então a minha amiga as imagens que ainda a perseguem dos festejos, e que só não a levaram à cama porque não é púdica tal e qual como eu e porque tem uma filha orientadinha com a qual não se tem que preocupar, já que tem aversão àqueles exageros doentezzz e depravadozzz.
Ora então ela e a família fizeram centenas de quilómetros para assistir a quê?, perguntam vocês. Pois é claro que assistiram àquilo que todos nós sabemos que acontece nestas festas estudantis:
gente a emborcar cervejas à doida como se não houvesse amanhã,
ambulâncias de apoio à festa num vai-vem atarefado de sirenes num ti-nó-ni constante,
cenas maradas como a daquela jovem que teve necessidade de fazer o seu xixi, coitada, que a cerveja tinha que sair por algum lado, e então toca de agachar e fazer o serviço ali no meio da rua com os Srs. Doutores a rodeá-la com as capas, mas a jovem com as nalgas espetadas perfeitamente visíveis aos olhos da multidão.
E para este espetáculo degradante levam os estudantes as famílias com os seus banquinhos e estes ficam embevecidos a ver o cortejo passar. E eu pergunto: é isto que esta juventude tem para mostrar às gerações mais velhas como marca mais identificativa da sua própria geração? E atenção, que estes são aqueles que tiram cursos...
Digo-vos uma coisa: eu cá fiz muita merda nesta idade (quem não faz?), mas pelo menos tinha algum decoro e não punha os meus pais a assistir de palanque. É que não havia mesmo nexexidade! Será que já não se apanham bebedeiras, e outras coisas que tal, às escondidas dos pais, como deve ser, como manda a lei?
E ainda não acabou... No meio deste cenário todo, a certa altura a minha amiga ouve alguém a seu lado, sentada no seu banquinho, a tentar justificar aquilo a uma senhora mais velha. A apreciação da minha amiga é que deveria ser uma mãe de um estudante a explicar a razoabilidade das cenas que estavam a assistir à perplexa e angustiada avó desse mesmo estudante. Dizia ela:
- "Mãe, isto faz-lhes bem. É assim que se fazem homens!"
Cá está! Mais uma prova de que o ser humano consegue encontrar argumentos muito improváveis quando quer convencer alguém... ou convencer-se a si próprio!
Eu cá, que volto a lembrar que não sou antiquada nem púdica, questiono-me: de que forma é que se fazem Homens, jovens que entram em coma alcoólico e que mijam no meio da rua como os burros e as mulas perante a anuência e gáudio dos pais e restantes familiares? Eventualmente, tornar-se-ão, mas vaticino que não será certamente por fazerem estas figuras...
Não, repito, eu não sou antiquada nem púdica. Eu se calhar estou é a ficar velha. Velha e preocupada porque daqui a uns aninhos poderei estar eu sentada num daqueles banquinhos a assistir ao cortejo e a tentar justificar o injustificável...
(E, no entanto, alguns de vocês acharão que eu sou antiquada e púdica... mas não sou! )
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